E se for verdade
que o que vemos por último
na vida
permanece gravado para sempre
em nossas pálpebras fechadas,
uma miniatura oval que se ajusta ao olho
como um daqueles pequenos retratos
emoldurados em folha de ouro
que minha avó mantinha
em sua lareira?
Meu pai, olhando fixamente
para o teto do hospital
enquanto morria,
teria apenas aquele mapa
de gesso trincado
para seguir
para sempre?
E para onde
tais marcos
acidentais poderiam levar?
Quando viajo de avião,
recuso todas as bandejas e revistas.
Contemplo acres
de nuvens sulcadas —
nossa suposição de céu.
Ou, muito abaixo, avisto
um ponto de janela iluminada,
e alguém escondido atrás dela
com flores, talvez, e pão
e velas para meus pés irremissíveis.
Trad.: Nelson Santander
What we look at last
What if it’s true
that what we look at last
in life
remains engraved forever
on our closed lids,
a miniature oval to fit the eye
like one of those tiny portraits
framed in gold leaf
my grandmother kept
on her mantel?
Did my father staring
at the hospital ceiling
as he died
have only that map
of cracked plaster
to follow
forever,
and where
can such accidental
signposts lead?
When I travel by air
I refuse all trays and magazines.
I gaze at acres
of furrowed cloud—
our guess of heaven.
Or far below I see
a speck of lighted window,
someone hidden behind it
with flowers perhaps and bread
and candles for my unshriven feet.