Do almanaque das coisas derradeiras
eu escolho o lírio-da-aranha-vermelha
pela graça de sua efêmera
floração, embora eu mesma
tema a brevidade,
mas escolho O Cântico dos Cânticos
por ter a polpa
daquelas romãs
sobrevivido a
toda geada do dogma.
Escolho janeiro, com suas frias
lições de paciência e desespero – e
agosto, muito ensolarado para lições.
Escolho um gole de vinho tinto
para fazer meu coração disparar,
depois outro para me ajudar
a dormir. Do almanaque
das coisas derradeiras eu escolho você,
como já fiz antes.
E escolho a noite
porque a luz que se agarra
à janela
é muito mais reflexiva
quando está pronta
para sair.
Trad.: Nelson Santander
REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 22/07/2023
The Almanac of Last Things
From the almanac of last things
I choose the spider lily
for the grace of its brief
blossom, though I myself
fear brevity,
but I choose The Song of Songs
because the flesh
of those pomegranates
has survived
all the frost of dogma.
I choose January with its chill
lessons of patience and despair–and
August, too sun-struck for lessons.
I choose a thimbleful of red wine
to make my heart race,
then another to help me
sleep. From the almanac
of last things I choose you,
as I have done before.
And I choose evening
because the light clinging
to the window
is at its most reflective
just as it is ready
to go out.