Linda Pastan – A filha

Gostaria de ter tido outra chance
com o meu pai, desempenhado
um papel diferente
no drama da minha infância.

Questões sem respostas assombram,
mas questões nunca formuladas apodrecem.
Sua cidade se desenrola em preto e branco granulado:
o trotar do cavalo do leiteiro,

o fedor daquele cortiço, a fome.
Como foi para ele, uma criança, nadar
em uma nova e estranha língua, tentando não se afogar?
Isso produziu seus silêncios,

suas raivas? Mas o que produziu minhas lágrimas
atrás de portas fechadas, minhas malcriações,
minhas recusas? Eu vivia uma vida mais simples,
embora a vida para mim parecesse maçante, não simples.

Velhas mágoas se desenrolam
em sonhos acordados ou em vigília.
Hamlet tinha seu fantasma. Eu tenho apenas
um túmulo silencioso, longe demais para visitar.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 01/02/2023

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The Daughter

I wish I had another chance
with my father, had played
a different role
in the drama of my childhood.

Questions unanswered haunt,
but questions never asked fester.
His city unreels in grainy black and white:
clop of a milkman’s horse,

that tenement reek, hunger.
What was it like for him, a child, swimming
in a strange new language, trying not to drown?
Did that produce his silences,

his angers? But what produced my tears
behind closed doors, my rudeness,
my refusals? I lived a simpler life,
though life to me seemed dull, not simple.

Old sorrows play out
in waking or sleeping dreams.
Hamlet had his ghost. I only have
a silent grave, too far away to visit.

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