Franz Wright – Caminhada Noturna

A loja de conveniências aberta 24 horas está vazia
e não tem ninguém atrás do balcão.
Abres e fechas a porta de vidro algumas vezes
fazendo um sino soar,
mas ninguém aparece. Vieste apenas
para comprar um maço de cigarros, e talvez
um exemplar do jornal de ontem —
por fim, escolhes um e partes,
deixando trinta e cinco cents no lugar.
Está congelando, mas é bom
sair novamente:
sentes-te menos só na noite,
com luzes acesas aqui e ali
entre os edifícios escuros e as árvores.
Dentre eles, o teu, em algum lugar.
Deve haver milhares de pessoas
nesta cidade que adorariam
receber-te em seus pequenos quartos trancados,
para se sentarem contigo e contar-te
o que aconteceu com as vidas deles.
E a noite tem o cheiro de neve.
Ao voltares para casa, por um momento,
quase acreditas que podes começar de novo.
E um amor intenso e a esperança invadem
teu coração. É insuportável. Insuportável.

Trad.: Nelson Santander

N. do T.: Optei por utilizar a segunda pessoa do singular na tradução de “Night Walk”, de Franz Wright, inspirado pela semelhança temática com o magistral “Voltas para Casa”, de Ferreira Gullar. Ambos os poemas, embora distintos em estilo e abordagem, revelam profundidade e riqueza na exploração de narrativas pessoais em forma poética. Ambos os poetas utilizam a caminhada como um cenário simbólico para explorar a solidão, a reflexão existencial e a busca por significado na vida cotidiana. É interessante observar como cada um chega a conclusões semelhantes por seu niilismo: Wright rejeita quase com verdadeiro asco a possibilidade de redenção (“É insuportável. Insuportável”), enquanto Gullar aceita resignadamente que o futuro não trará mudanças significativas (“Amanhã ainda não será outro dia”). Os dois poetas exemplificam, por meio de seus textos, como a poesia pode revelar as profundezas da existência humana, explorando temas universais com sensibilidade e introspecção.

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Night Walk

The all-night convenience store’s empty
and no one is behind the counter.
You open and shut the glass door a few times
causing a bell to go off,
but no one appears. You only came
to buy a pack of cigarettes, maybe
a copy of yesterday’s newspaper—
finally you take one and leave
thirty-five cents in its place.
It is freezing, but it is a good thing
to step outside again:
you can feel less alone in the night,
with lights on here and there
between the dark buildings and trees.
Your own among them, somewhere.
There must be thousands of people
in this city who are dying
to welcome you into their small bolted rooms,
to sit you down and tell you
what has happened to their lives.
And the night smells like snow.
Walking home for a moment
you almost believe you could start again.
And an intense love rushes to your heart,
and hope. It’s unendurable, unendurable.

Deixe um comentário