Laurie Lee – A sombra abandonada

Percorrendo a sombra abandonada
das habitações da minha infância,
meus ouvidos relembram o badalar,
ouvindo suas vozes soterradas.

Ouço o verão primordial,
as margens da aurora iluminadas por aves,
o pulsar de sangue da escrevedeira-amarela
dourando meus olhos de berço.

Ouço a lua-de-estanho subir
e a moeda do crepúsculo cair,
o rastejar da geada e o gemido
do degelo e o pio dos piscos no inverno.

Ouço novamente a casa falante
e as quatro vogais do vento,
e o sussurrar dos monstros da meia-noite
na lívida garganta do meu quarto.

Liturgia das estações e da paisagem,
o texugo e a persistência da chuva,
o trissar dos morcegos e o salto dos
coelhos borbulhando sob a colina:

Cada língua antiga e ecoada
canta para o meu olhar que recua,
mas a voz do menino, o menino que procuro,
na minha boca está muda.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO: poema originalmente publicado na página em 01/05/2020

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The abandoned shade

Walking the abandoned shade
of childhood’s habitations,
my ears remembering chime,
hearing their buried voices.

Hearing original summer,
the birdlit banks of dawn,
the yellow-hammer beat of blood
gilding my cradle eyes.

Hearing the tin-moon rise
and the sunset’s penny fall,
the creep of frost and weep of thaw
and bells of winter robins.

Hearing again the talking house
and the four vowels of the wind,
and midnight monsters whispering
In the white throat of my room.

Season and landscape’s liturgy,
badger and sneeze of rain,
the bleat of bats, and bounce of rabbits
bubbling under the hill:

Each old and echo-salted tongue
sings to my backward glance;
but the voice of the boy, the boy I seek,
within my mouth is dumb.

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