Dorianne Laux – Antilamentação

Não se arrependa de nada. Nem dos romances terríveis que você leu
até o fim só para descobrir quem matou o cozinheiro, nem
dos filmes insossos que a fizeram chorar no escuro,
apesar de sua inteligência, sua sofisticação, nem
do amante que você deixou tremendo no estacionamento de um hotel,
aquele que você superou na brincadeira, à saída, ou aquele
que a deixou em seu vestido vermelho e sapatos, aqueles
que apertavam seus dedos, não se arrependa desses.
Nem das noites em que você injuriou deus e amaldiçoou
sua mãe, afundada como um cão no sofá da sala,
roendo as unhas e esmagada pela solidão.
Você estava destinada a inalar aquelas noites esfumaçadas
com uma garrafa de cerveja barata, a varrer rodelas de cebola
grudadas pelo chão sujo do restaurante, a vestir o casaco
puído com botões soltos e bolsos cheios de fósforos riscados.
Você caminhou por essas ruas milhares de vezes e ainda
assim sempre acaba aqui. Não se arrependa de nada, nem de um só
dos dias desperdiçados em que você não queria saber de nada,
quando as luzes dos brinquedos do parque de diversões
eram as únicas estrelas em que você acreditava, amando-as
por sua inutilidade, sem querer ser salva.
Você viajou até aqui em cima de cada erro,
cavalgando com olhos sombrios e melancólicos, mas calma como uma casa
depois que a TV foi jogada pela janela do andar de cima.
Inofensiva como um machado quebrado. Esvaziada de expectativas.
Relaxe. Não se incomode em se lembrar de nada disso. Vamos parar aqui,
sob o letreiro luminoso da esquina, e observar todas essas pessoas passando.

Trad.: Nelson Santander

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Antilamentation

Regret nothing. Not the cruel novels you read
to the end just to find out who killed the cook, not
the insipid movies that made you cry in the dark,
in spite of your intelligence, your sophistication, not
the lover you left quivering in a hotel parking lot,
the one you beat to the punchline, the door, or the one
who left you in your red dress and shoes, the ones
that crimped your toes, don’t regret those.
Not the nights you called god names and cursed
your mother, sunk like a dog in the livingroom couch,
chewing your nails and crushed by loneliness.
You were meant to inhale those smoky nights
over a bottle of flat beer, to sweep stuck onion rings
across the dirty restaurant floor, to wear the frayed
coat with its loose buttons, its pockets full of struck matches.
You’ve walked those streets a thousand times and still
you end up here. Regret none of it, not one
of the wasted days you wanted to know nothing,
when the lights from the carnival rides
were the only stars you believed in, loving them
for their uselessness, not wanting to be saved.
You’ve traveled this far on the back of every mistake,
ridden in dark-eyed and morose but calm as a house
after the TV set has been pitched out the upstairs window.
Harmless as a broken ax. Emptied of expectation.
Relax. Don’t bother remembering any of it. Let’s stop here,
under the lit sign on the corner, and watch all the people walk by.

Deixe um comentário