Adam Zagajewski – Improviso

Você deve carregar todo o peso do mundo
e torná-lo mais suportável.
Jogue-o como uma mochila
sobre seus ombros e siga em frente.
O melhor momento é à tardinha, na primavera, quando
as árvores respiram suavemente e a noite promete
ser boa, os ramos dos olmos estalando no jardim.
Todo o peso? Sangue e feiura? Impossível.
Um traço de amargura permanecerá em seus lábios,
assim como o desespero contagiante daquela velha
que você viu no bonde.
Por que mentir? Afinal, o êxtase
existe apenas na imaginação e depressa se dissipa.
Improviso – sempre apenas improviso,
grande ou pequeno, é tudo o que sabemos,
na música, como um trompete de jazz chora alegremente,
ou quando você encara a página em branco
ou tenta ludibriar
a tristeza abrindo seu livro de poemas favorito;
é nesse momento que o o telefone geralmente toca,
alguém perguntando se você gostaria de experimentar
o modelo mais recente. Não, obrigado.
Prefiro as marcas consagradas.
Cinza e monotonia permanecem; tristeza
que a melhor elegia não pode curar.
Mas talvez haja coisas ocultas de nós,
onde tristeza e entusiasmo se amalgamam
constantemente, no dia a dia, como o amanhecer
à beira-mar, não, espere,
como o riso daqueles coroinhas
em vestes brancas, na esquina da St. John com a Mark,
lembra?

Trad.: Nelson Santander a partir da versão do poema em inglês traduzido por Clare Cavanagh

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Improvisation

You must take up the world’s whole weight
and make it easier to bear.
Toss it like a knapsack
on your shoulders and set out.
The best time is evening, in spring, when
trees breathe calmly and the night promises
to be fine, elm twigs crackle in the garden.
The whole weight? Blood and ugliness? Can’t be done.
A trace of bitterness will linger on your lips,
and the contagious despair of the old woman
you spotted in the tram.
Why lie? After all rapture
exists only in imagination and leaves quickly.
Improvisation – always just improvisation,
great or small, that’s all we know,
in music, as a jazz trumpet weeps happily
or when you stare at the blank page
or try to outwit
sorrow by opening a favorite book of poems;
just then the phone usually rings,
someone asking, would you like to try
the latest model? No thank you.
I prefer the proven brands.
Grayness and monotony remain; grief
the finest elegy can’t heal.
But perhaps there are things hidden from us,
in which sorrow and enthusiasm mix
non-stop, on a daily basis, like the dawn’s birth
above the seashore, no, wait,
like the laughter of those little altar boys
in white vestments, on the corner of St. John and Mark,
remember?

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