Wislawa Szymborska – Sobre a morte sem exagero

Não entende de piadas,
de estrelas, de pontes,
de tecer, minerar, lavrar a terra,
de construir navios e assar bolos.

Quando falamos de planos para amanhã
intromete sua última palavra
sem nada a ver com o assunto.

Não sabe sequer as coisas
diretamente ligadas ao seu ofício:
nem cavar uma cova,
nem fazer um caixão,
nem arrumar a desordem que deixa.

Ocupada em matar,
o faz de modo canhestro,
sem método nem mestria,
como se em cada um de nós estivesse aprendendo.

Triunfos, vá lá,
mas quantas derrotas,
golpes falhos
e tentativas repetidas de novo!

Às vezes lhe faltam forças
para fazer cair uma mosca do ar.
Mais de uma lagarta
rastejando a vence na corrida.

Todos esses bulbos, grãos,
tentáculos, barbatanas, traqueias,
plumagens nupciais e pelame de inverno
testemunham atrasos
no seu trabalho tedioso.

A má vontade não basta,
e mesmo nossa ajuda com guerras e revoluções
é, até aqui, insuficiente.

Corações batem nos ovos.
Crescem os esqueletos dos bebês.
Das sementes brotam duas primeiras folhinhas,
e amiúde também árvores altas no horizonte.

Quem afirma que ela é onipotente
é ele mesmo a prova viva
de que onipotente ela não é.
Não há vida
que pelo menos por um momento
não tenha sido imortal.

A morte
chega sempre atrasada àquele momento.

Em vão força a maçaneta
de uma porta invisível.
A ninguém pode subtrair
o tempo alcançado.

Trad.: Regina Przybycien

REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 31/10/2019

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

O śmierci bez przesady

Nie zna się na żartach,
na gwiazdach, na mostach,
na tkactwie, na górnictwie, na uprawie roli,
na budowie okrętów i pieczeniu ciasta.

W nasze rozmowy o planach na jutro
wtrąca swoje ostatnie słowo
nie na temat.

Nie umie nawet tego,
co bezpośrednio łączy się z jej fachem:
ani grobu wykopać,
ani trumny sklecić,
ani sprzątnąć po sobie.

Zajęta zabijaniem,
robi to niezdarnie,
bez systemu i wprawy.
Jakby na każdym z nas uczyła się dopiero.

Tryumfy tryumfami,
ale ileż klęsk,
ciosów chybionych
i prób podejmowanych od nowa!

Czasami brak jej siły,
żeby strącić muchę z powietrza.
Z niejedną gąsienicą
przegrywa wyścig w pełzaniu.

Te wszystkie bulwy, strąki,
czułki, płetwy, tchawki,
pióra godowe i zimowa sierść
świadczą o zaległościach
w jej marudnej pracy.

Zła wola nie wystarcza
i nawet nasza pomoc w wojnach i przewrotach,
to, jak dotąd, za mało.

Serca stukają w jajkach.
Rosną szkielety niemowląt.
Nasiona dorabiają się dwóch pierwszych listków,
a często i wysokich drzew na horyzoncie.

Kto twierdzi, że jest wszechmocna,
sam jest żywym dowodem,
że wszechmocna nie jest.
Nie ma takiego życia,
które by choć przez chwilę
nie było nieśmiertelne.

Śmierć
zawsze o tę chwilę przybywa spóźniona.

Na próżno szarpie klamką
niewidzialnych drzwi.
Kto ile zdążył,
tego mu cofnąć nie może.

Maria Popova – Último da Espécie

O chilrear sincopado
do último Moho braccatus
um pequeno pássaro
havaiano já extinto –
foi extraído de uma bobina
no arquivo de som
     da biblioteca britânica.

Depois que séculos de humanos
silenciaram sua espécie
     com a civilização,
depois que um furacão
matou a última fêmea
     em 1982,
só restou ele
para cantar a canção final
     de sua espécie —
um chamado de acasalamento para
um mundo sem parceiras.

Em dez bilhões de anos,
o sol se extinguirá.
Em cem bilhões,
as galáxias se afastarão
e levarão embora a luz,
deixando o céu noturno
negro como o interior
     de um crânio.
Com o tempo,
toda a energia
do cosmos
se dissipará
até que não reste nenhuma
     para sustentar a vida
enquanto o universo continua a se expandir
     até a eternidade.

Em algum lugar ao longo do caminho,
haverá uma criatura
para formular o último pensamento
e experimentar o último sentimento
e cantar a última canção
     da vida.

E terá sido belo
este breve movimento do ser
na silenciosa sinfonia
     da eternidade,
e terá sido misericordioso
que apenas em retrospectiva
se conheça quais foram
     os últimos.

Trad.: Nelson Santander

O canto final do Kauaʻi ʻōʻō (moho braccatus)

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Endling

Unspooling from a reel
in the sound archive
of the British Library
is the syncopating chirp of
the last Moho braccatus —
a small Hawaiian bird
     now extinct.

After centuries of humans
silenced the species
     with civilization,
after a hurricane
killed the last female
     in 1982,
he alone was left
to sing the final song
     of his kind —
a mating call for
a world void of mate.

In ten billion years,
the Sun will burn out.
In a hundred billion,
the galaxies will drift apart
and take away the light,
leaving the night sky
black as the inside
     of a skull.
In time,
all the energy
of the cosmos
will dissipate
until none is left
     to succor life
as the universe goes on expanding
     into eternity.

Somewhere along the way,
there will have been a creature
to think the last thought
and feel the last feeling
and sing the last song
     of life.

And it will have been beautiful,
this brief movement of being
in the silent symphony
     of forever,
and it will have been merciful
that only hindsight
ever knows
     each last.