Quando me ausento por um momento, ao finalizar
uma inspeção de obra em algum bairro estranho
e entro para tomar café em um pequeno bar
onde não me conhecem, penso que sou
alguém que parte para não mais voltar.
Quando me refugio no vazio
de um entreato e procuro a escada
que leva aos banheiros,
sinto que ali poderia começar minha ausência.
Instantes que são fendas para o frio.
Imagino as ruas que sempre nos aguardam
em futuros perdidos dentro de um só instante.
Ao redor está a eternidade:
atravessamo-la velozes
neste trem blindado que é o tempo.
A eternidade
se move tão devagar que a lua
na janela é a mesma da infância.
Não sei o que mais me surpreende nesta história,
se o quanto odeio o mundo cotidiano
ou quantos anos poderei
permanecer paralisado por uma covardia.
Trad.: Nelson Santander
REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 04/02/2020
La aventura
Cuando me ausento un rato, al acabarse
una visita de obra en algún barrio extraño
y entro a tomar café en un pequeño bar
donde no me conocen, pienso que soy
alguien que se está yendo para ya no volver.
Cuando me escapo en el vacío
de un entreacto y busco la escalera
que va hacia los lavabos,
siento que allí podría dar comienzo mi ausencia.
Instantes que son grietas hacia el frío.
Imagino las calles que siempre nos aguardan
en futuros perdidos dentro de un solo instante.
Alrededor está la eternidad:
la atravesamos raudos
en este tren blindado que es el tiempo.
La eternidad
se mueve tan despacio que la luna
del cristal es la misma de la infancia.
De esta historia no sé lo que más me sorprende,
si cómo se odia el mundo cotidiano
o cuántos años puedo
permanecer helado por una cobardía.