Dorianne Laux – Eu te desafio

É outono, e estamos nos livrando
dos livros, nos preparando para aposentar e
mudar para um lugar menor, mais
gerenciável. Vivendo ao contrário,
na nova casa à prova de idade, nada
no chão para tropeçar, nenhum obstáculo
para os vagarosos mecanismos de nossos corpos,
uma mesinha para dois. Nosso mundo está
encolhendo, nossos armários, quase vazios,
se foram as saias justas e os sapatos de dança,
os badulaques e bugigangas. Agora, quando
alguém nos visita e admira
nossas obras completas de Shakespeare,
a pena de falcão no dicionário aberto,
o anjo de ferro na estante, dizemos:
leve-os. Este é o momento mais importante
de todos, a era do desapego,
sabendo que o que deixamos para trás é
como o aroma das árvores em flor
que se intensifica depois
que as atravessamos, inspirando-as
por um instante antes de
exalá-las. Uma terça-feira
comum em que um de vocês diz
eu te desafio, e o outro
apenas ri.

Trad.: Nelson Santander

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I Dare You

It’s autumn, and we’re getting rid
of books, getting ready to retire,
to move some place smaller, more
manageable. We’re living in reverse,
age-proofing the new house, nothing
on the floors to trip over, no hindrances
to the slowed mechanisms of our bodies,
a small table for two. Our world is
shrinking, our closets mostly empty,
gone the tight skirts and dancing shoes,
the bells and whistles. Now, when
someone comes to visit and admires
our complete works of Shakespeare,
the hawk feather in the open dictionary,
the iron angel on a shelf, we say
take them. This is the most important
time of all, the age of divestment,
knowing what we leave behind is
like the fragrance of blossoming trees
that grows stronger after
you’ve passed them, breathing
them in for a moment before
breathing them out. An ordinary
Tuesday when one of you says
I dare you, and the other one
just laughs.

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