Joan Margarit – Era Rubra

     A Àlex Susanna

Levaste tanto tempo para aprender
que chegas tarde ao grande amor:
nunca viveste uma era de ouro.
As rosas de Ronsard*
jamais perfumarão teu olhar,
nenhum outono desfolhará
morosas pétalas nos braços de ninguém.
Com negligência ocultas os espelhos
como se fazia nas casas
onde havia um defunto.
Não voltam as mulheres com as quais
trocaste anos de solidão
por um fugaz momento de ternura.
Tão ardente é a vida no outono
que nas horas de angústia não poderás
amar nem a mulher que já perdeste.

Trad.: Nelson Santander

* N. do T.: o verso ‘As rosas de Ronsard’ pode ser interpretado de duas maneiras distintas. Por um lado, o poeta pode estar se referindo à espécie de rosa conhecida como ‘Rosa Pierre de Ronsard’, uma rosa trepadeira famosa por suas flores exuberantes. Por outro lado, pode estar aludindo ao famoso poema “Quand vous serez bien vieille” (Quando você estiver bem velha, em livre tradução), do poeta renascentista francês Pierre de Ronsard, um um exemplo clássico do tema do ‘carpe diem’. Ambas interpretações são válidas, inclusive concomitantemente, pois o poeta parece estar evocando tanto a beleza transitória das rosas como um símbolo do amor e da juventude efêmeros, quanto a reflexão sobre o tempo e a impossibilidade de alcançar uma era de ouro. A menção às rosas de Ronsard no poema de Margarit traz uma camada adicional de significado, ampliando o tema da fugacidade e da perda no poema.

REPUBLICAÇÃO com alterações na tradução: poema publicado na página originalmente em 30/09/2018

Edad roja

     A Àlex Susanna

Tanto tiempo has tardado en aprender
que llegas tarde al gran amor:
Que nunca habrás vivido una edad de oro.
Las rosas de Ronsard
nunca serán perfume en tu mirada,
ningún otoño habrá de deshojar,
en los brazos de nadie, lentos pétalos.
Con el olvido tapas los espejos
igual que acostumbraban en las casas
donde había un difunto.
No vuelven las mujeres con las cuales
cambiabas años de tu soledad
por un fugaz momento de ternura.
Tan ardiente es la vida en el otoño,
que en las horas de angustia no podrás
amar ni a la mujer que ya has perdido.

Deixe um comentário