José Mateos – In Memoriam

Para Pedro Sevilla

Sempre, diante da dor, estamos sozinhos,
não se deseja viver, e tu sabes disso.
Há um instante, na penumbra de um
quarto de hospital, viste a mão hirta,
seu rosto afundado que o lençol ocultou.
E foi como olhar-se num espelho
e perceber que somos menos que essa ausência,
menos que a névoa que o ar dissipa.

Eu sei; sentes agora apenas a noite
pronunciar sua absurda palavra,
e vês a humilhação, vês o esforço
que foi esta despedida.
            No entanto,
ouve-me: não sofras. Pois sempre
– mesmo nos dia nublados,
ou quando o inevitável acontece, mesmo assim –
a resposta é a vida que foge e continua,
nunca a dor nem suas indagações ao Nada.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO com alterações na tradução: poema publicado na página originalmente em 09/09/2018

En Memoria

   Para Pedro Sevilla

Siempre frente al dolor uno está solo,
no se quiere vivir, y tú lo sabes.
Hace un momento has visto, en la penumbra
de un cuarto de hospital, la mano yerta,
su rostro hundido que cubrió la sábana.
Y era como mirarse en un espejo
y ver que somos menos que esa ausencia,
menos que el humo que despeja el aire.

Ya sé; sientes que ahora únicamente
dice la noche su palabra absurda,
y ves la humillación, ves el esfuerzo
que fue esta despedida.
            Sin embargo,
escúchame: no sufras. Porque siempre
– incluso cuando un día pasan nubes,
pasa lo inevitable, incluso entonces —
la respuesta es la vida que huye y sigue,
nunca el dolor ni su pregunta a Nadie.

Deixe um comentário