Joan Margarit – Espaço e Tempo

E de repente a casa é grande demais.
Tua mãe e eu esvaziamos teus armários
e percorremos mesas e prateleiras,
de retrato em retrato, teus sorrisos.
À noite, os espelhos, sob a luz elétrica,
revelam com mais nitidez a tua ausência.
Os móveis estão agora mais sombrios.
Pela escada desce a balaustrada acolhedora
que guarda ainda a lembrança de tua pequena mão,
e os degraus que ainda sentem
o roçar dos teus passos. E a casa,
grande e vazia agora,
olha e contempla seu próprio silêncio.

Trad.: Nelson Santander

REPUBLICAÇÃO com alterações na tradução: poema publicado na página originalmente em 21/08/2018

Espacio y Tiempo

Y de pronto la casa es demasiado grande.
Tu madre y yo vaciamos tus armarios
y seguimos por mesas y anaqueles,
de retrato en retrato, tus sonrisas.
De noche los espejos, bajo la luz eléctrica,
muestran con más relieve tu vacío.
Los muebles son ahora más oscuros.
Por la escalera bajan la cálida baranda,
que aún recuerda tu pequeña mano,
y los peldaños que aún sienten
el roce de tus pasos. Y la casa,
grande y vacía ahora,
a su propio silencio mira y mira.

Deixe um comentário