As flores enviadas para cá por engano,
assinadas com um nome que ninguém conhece,
estão murchando. O que faremos?
Nossa vizinha diz que não são para ela,
e ninguém está perto de fazer aniversário.
Deveríamos agradecer a alguém pelo equívoco.
Será que um de nós está tendo um caso?
A princípio rimos, depois nos perguntamos.
A íris foi a primeira a morrer,
envolta em seu perfume
adocicado e persistente. As rosas
se desmancharam, pétala por pétala,
e agora as samambaias estão secando.
O quarto cheira a velório,
mas lá estão elas, à vontade demais,
acusando-nos de algum crime menor,
como o de um amor esquecido, e não conseguimos
jogar fora um presente que nunca foi nosso.
Trad.: Nelson Santander
Thanks For Remembering Us
The flowers sent here by mistake,
signed with a name that no one knew,
are turning bad. What shall we do?
Our neighbor says they’re not for her,
and no one has a birthday near.
We should thank someone for the blunder.
Is one of us having an affair?
At first we laugh, and then we wonder.
The iris was the first to die,
enshrouded in its sickly-sweet
and lingering perfume. The roses
fell one petal at a time,
and now the ferns are turning dry.
The room smells like a funeral,
but there they sit, too much at home,
accusing us of some small crime,
like love forgotten, and we can’t
throw out a gift we’ve never owned.