Joan Margarit – Despedir-se

Removi tapetes e cortinas,
todas as mesas em que há tempos
não como nem escrevo.
Tirei os quadros e pintei as paredes
para apagar os sinais dos anos.
Guardo uns poucos livros. Sei bem quais.
Destruí
cartas de amor que não me amavam mais.
Silenciosos, agora, os amores
são icebergs errantes do pensamento.
A casa, sem desvãos para o medo,
deixa meus olhos mais nus.
Nada, nem a esperança,
pode perturbar já a última morte.
Não há outra casa para os que amo.

Trad.: Nelson Santander

Joan Margarit – Despedirse

He retirado alfombras y cortinas,
todas las mesas en las que hace tiempo
que ni como ni escribo.
He sacado los cuadros y he pintado los muros
para borrar señales de los años.
Guardo unos pocos libros. Sé bien cuáles.
He destruido
cartas de amor que no me amaban ya.
Silenciosos, ahora, los amores
son icebergs errantes del pensar.
La casa, sin rincones para el miedo,
deja mis ojos más desnudos.
Nada, ni la esperanza,
podrá perturbar ya la última muerte.
No hay otra casa para los que amo.

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