Ricardo Reis – Odes: 80 – A nada imploram tuas mãos já coisas,

A nada imploram tuas mãos já coisas,
Nem convencem teus lábios já parados,
  No abafo subterrâneo
  Da húmida imposta terra.
Só talvez o sorriso com que amavas
Te embalsama remota, e nas memórias
  Te ergue qual eras, hoje
  Cortiço apodrecido.
E o nome inútil que teu corpo morto
Usou, vivo, na terra, como uma alma,
  Não lembra. A ode grava,
  Anónimo, um sorriso.

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