Tess Gallagher – Vão

Entrei neste mundo sem querer
vir. Dele vou sair sem
querer partir. Todo esse tempo,
em que parecia haver duas portas,
apenas uma porta havia – esta
passagem.

Trad.: Nelson Santander

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Opening

I entered this world not wanting
to come. I’ll leave it not
wanting to go. All this while,
when it seemed there were two doors,
there was only one – this
passing through.

Tess Gallagher – Paro de escrever o poema

Paro de escrever o poema*
para dobrar as roupas. Não importa quem vive
ou quem morre, continuo sendo mulher.
Sempre terei muito o que fazer.
Cinjo as mangas da camisa dele
unindo-as. Nada pode deter
nosso afeto. Voltarei a ser
uma mulher. Mas por enquanto
há uma camisa, uma enorme camisa,
em minhas mãos, e, em algum lugar, uma garotinha
ao lado de sua mãe
observando para aprender como se faz.

Trad.: Nelson Santander

*N. do T.: O poema “I Stop Writing the Poem”, de Tess Gallagher, foi escrito em 1992 e faz parte de seu livro de poemas Moon Crossing Bridge. Embora sujeito a interpretações variadas, algumas fontes sugerem uma conexão entre este poema e a perda do marido de Gallagher, Raymond Carver (contista e poeta consagrado, já publicado no blog). Gallagher, através de sua poesia, estaria expressando o luto pela partida de Carver. Em uma resenha de Moon Crossing Bridge da Publishers Weekly, alguns poemas desta coleção são apontados por causarem um impacto no leitor “mais por causa do que está por trás deles do que por causa do que mostra”. Esse parece ser o caso de “I Stop Writing the Poem”, onde Gallagher aborda a continuidade das atividades cotidianas enquanto transmite a dor subjacente à normalidade dessas ações.

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I stop writing the poem

I stop writing the poem
to fold the clothes. No matter who lives
or who dies, I’m still a woman.
I’ll always have plenty to do.
I bring the arms of his shirt
together. Nothing can stop
our tenderness. I’ll get back to being
a woman. But for now
there’s a shirt, a giant shirt
in my hands, and somewhere a small girl
standing next to her mother
watching to see how it’s done.

Tess Gallagher – Escolhas

Dirijo-me para o lado da casa de onde se vê
a montanha, a fim de aparar as árvores novas
e desobstruir a vista para a neve
sobre as serras. Mas quando olho para cima,
serrote na mão, vejo um ninho agarrado
aos galhos mais altos.
Não corto esta.
E também não corto as demais.
De repente, em cada árvore,
um ninho invisível
onde uma montanha
poderia estar.

Trad.: Nelson Santander

Choices

I go to the mountain side
of the house to cut saplings,
and clear a view to snow
on the mountain. But when I look up,
saw in hand, I see a nest clutched in
the uppermost branches.
I don’t cut that one.
I don’t cut the others either.
Suddenly, in every tree,
an unseen nest
where a mountain
would be.