Pierre de Ronsard – Ossos, nada mais tenho

Ossos, nada mais tenho, esqueleto pareço,
Sem músculos, polpa e nervo, descarnado,
Da morte chega a mim o impiedoso chamado,
E se ouso olhar meus braços, de medo estremeço.

Apolo e o filho seu, mestres de grande apreço
Não podem me curar, por eles fui burlado;
Adeus, amável Sol, tenho o olhar turvado.
Meu corpo já descamba onde não há regresso.

Que amigo, ao me encontrar a tal ponto acabado,
Não levará consigo o olhar triste e molhado
No leito a consolar-me e o rosto a me beijar,

E enxugue os olhos meus, na morte adormecidos?
Companheiros, adeus, meus amigos queridos,
Vou primeiro, e preparo assim vosso lugar.

Trad.: Sergio Duarte

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Je n’ai plus que les os

Je n’ai plus que les os, un squelette je semble,
Décharné, dénervé, démusclé, dépulpé
Que le trait de la mort sans pardon a frappé
Je n’ose voir mes bras que de peur je ne tremble.

Apollon et son fils, deus grands maîtres ensemble
Ne me sauraient guérir, leur métier m’a trompé;
Adieu, plaisant Soleil, mon oeil est étoupé,
Mon corps s’en va descendre où tout se désassemble

Quel ami me voyant en ce point dépouillé
Ne remporte ao logis un oeil triste e mouillé
Me consolant au lit et me baisant la face,

En essuyant mes yeux par la mort endormis?
Adieu, chers compagnons, adieu, mes chers amis,
J’en vais le premier vous préparer la place.