Katherine Barrett Swett – Cabelos brilhantes

Cabelos Brilhantes

que esse artifício pudesse ser um meio1
-John Donne

Quando me enterrar, por favor, ponha
o cabelo de nossa filha em meu punho;
assim, algum arqueólogo,
que por acaso escave minha sepultura,
encontrará esse cacho, que não se tornou grisalho
durante todos os anos que se passaram
entre minha morte e a dela.
Espero que ela possa experimentar
o choque da imortalidade
que senti ao vasculhar velharias
e encontrar uma mecha de cabelos castanhos atada,
anos antes, com um fio vermelho-vivo,
enrolada em posição fetal dentro
de um pote de maionese Hellmann’s.
Espero que esse estudioso compreenda
exatamente o que meu esqueleto tem em mãos,
e encontre a linguagem para expressar,
com a precisão de um fio de cabelo,
que tudo o que temos são palavras e carnes.

Trad.: Nelson Santander

  1. Trecho do poema “The Relic”, de John Donne em tradução livre e literal. ↩︎

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Bright Hair

that this device might be some way
-John Donne

When you bury me, please place
our daughter’s hair inside my fist;
that way some archaeologist,
who happens to unearth my grave,
might find this lock, not turned to gray
in all the intervening years
between my death and my daughter’s.
I hope she’ll be the kind to feel
the shock of immortality
I felt when sorting through old stuff
to find a hank of brown hair tied
some years before with bright red yarn
and curled up fetally inside
a Hellmann’s mayonnaise jar.
I hope that scholar understands
just what my skeleton has in hand,
and finds the language to express
closer by that hair’s breadth
that all we have are words and flesh.