Edgar Allan Poe – Só

Desde criança nunca fui como outros foram
Nem meus olhos nunca viram o que outros viram,
Já que minhas paixões não têm a mesma origem
Não vêm da mesma fonte as dores que me afligem.
Também o prazer era de outra natureza –
Tudo que amei ninguém amou, tenho certeza.
Lá – no despontar de um viver atormentado -,
Do âmago do mal e do bem foi arrancado
Esse mistério que ainda me traz prisioneiro:
Da cascata e da torrente – do ocre do outeiro –
Do sol a desfilar sua outonal majestade
E da nuvem que a meus olhos tomou o perfil
De um demônio naquele céu azul anil.

Trad.: João Moura Jr.