Na tentativa de fazer as pessoas olharem
mais nos olhos umas das outras,
e também para apaziguar os mudos,
o governo decidiu atribuir
a cada pessoa exatamente cento
e sessenta e sete palavras por dia.
Quando o telefone toca, coloco-o no ouvido
sem dizer alô. No restaurante,
aponto para a sopa de macarrão com frango.
Estou me adaptando bem ao novo jeito.
Tarde da noite, ligo para a minha amada distante,
e com orgulho digo: Só usei cinquenta e nove hoje.
Guardei as demais para você.
Quando ela não responde,
eu sei que ela já usou todas as suas palavras,
então sussurro lentamente eu te amo
trinta e duas vezes e mais um terço.
Depois disso, apenas ficamos na linha
ouvindo a respiração um do outro.
Trad.: Nelson Santander
The Quiet World
In an effort to get people to look
into each other’s eyes more,
and also to appease the mutes,
the government has decided
to allot each person exactly one hundred
and sixty-seven words, per day.
When the phone rings, I put it to my ear
without saying hello. In the restaurant
I point at chicken noodle soup.
I am adjusting well to the new way.
Late at night, I call my long distance lover,
proudly say I only used fifty-nine today.
I saved the rest for you.
When she doesn’t respond,
I know she’s used up all her words,
so I slowly whisper I love you
thirty-two and a third times.
After that, we just sit on the line
and listen to each other breathe.