Eduardo Gudin e J. C. Costa Netto – Paulista

(intérprete: Leila Pinheiro)

Na Paulista os faróis já vão abrir
E um milhão de estrelas prontas pra invadir
Os jardins onde a gente aqueceu uma paixão
Manhãs frias de abril

Se a avenida exilou seus casarões
Quem reconstruiria nossas ilusões?
Me lembrei de contar prá você nessa canção
Que o amor conseguiu

Você sabe quantas noites eu te procurei
Nessas ruas onde andei?
Conta onde passeia hoje esse seu olhar
Quantas fronteiras ele já cruzou
No mundo inteiro de uma só cidade?

Se os seus sonhos imigraram sem deixar
Nem pedra sobre pedra pra poder lembrar
Dou razão: é difícil hospedar no coração
sentimentos assim

Violeta de Outono – Outono

 

No percurso rumo ao prédio oculto
Desolado o sol se põe a oeste
Lua em gancho, triste, sons do vento
Parte o coração o frio do outono

Canto do extremo do mundo
Espero em silêncio profundo

No jardim noturno o esquecimento
Velha árvore espera o julgamento
Nada explicará meu sentimento
Está em meu coração o frio do outono

Canto do extremo do mundo
Espero em silêncio profundo

Domingo, 20 de março: primeiro dia do outono de 2016

Adriana Calcanhotto e Antonio Cicero – Inverno

 

No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar até sumir
De lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém
E o inverno no Leblon é quase glacial
Há algo que jamais se esclareceu:
Onde foi exatamente que larguei
Naquele dia mesmo
O leão que sempre cavalguei?
Lá mesmo esqueci
Que o destino
Sempre me quis só
No deserto sem saudade, sem remorso só
Sem amarras, barco embriagado ao mar
Não sei o que em mim
Só quer me lembrar
Que um dia o céu
Reuniu-se a terra um instante por nós dois
Pouco antes do Ocidente se assombrar

Letra de Antonio Cícero

Adriana Calcanhoto – Estrelas

estrelas
para mim
para mim
estrelas

são para mim
estrelas para mim
estrelas
estrelas

para quê?
para quê?
para quê?

estrelas para mim
só para mim.

para mim
para mim
para mim

e a treva entre as estrelas
só para mim.

Caetano Veloso – O Ciúme

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Caetano Veloso – O Ciúme

Dorme o sol à flor do Chico, meio-dia
Tudo esbarra embriagado de seu lume
Dorme ponte, Pernambuco, Rio, Bahia
Só vigia um ponto negro: o meu ciúme

O ciúme lançou sua flecha preta
E se viu ferido justo na garganta
Quem nem alegre, nem triste, nem poeta
Entre Petrolina e Juazeiro canta

Velho Chico vens de Minas
De onde o oculto do mistério se escondeu
Sei que o levas todo em ti, não me ensinas
E eu sou só eu, só eu só, eu

Juazeiro, nem te lembras dessa tarde
Petrolina, nem chegaste a perceber
Mas na voz que canta tudo ainda arde
Tudo é perda, tudo quer buscar, cadê?

Tanta gente canta, tanta gente cala
Tantas almas esticadas no curtume
Sobre toda estrada, sobre toda sala
Paira, monstruosa, a sombra do ciúme.