Ben Rhys Palmer – Eden, o robô jardineiro

Ele foi programado para seguir instruções:
espalhar cobertura morta, despontar as begônias,
manter os querubins da fonte livres dos dejetos dos pássaros.
Mas desde que, certa manhã, encontrou seus senhores
frios e rígidos na cozinha, surpreendeu-se
saindo da própria programação,
dedicando uma hora a contar girinos, outra a erguer
as pedras ao redor do lago para admirar os estranhos seres
por baixo: o tatuzinho-de-jardim em sua armadura coberta de terra,
o piolho-de-cobra, segmentado em mais partes
que os quadros do programa matinal que sua senhora assistia
enquanto bebia seu chá oolong. As ligações que Eden
fez para os serviços de emergência ficaram sem resposta,
então ele usou seu braço-pá destacável para sepultar os humanos
sob a cerejeira que tanto amavam. Sua senhora
havia ordenado que exterminasse as lagartas
que estavam dizimando as buganvílias, mas
ele decidiu deixá-las empupar. Observou-as
tecer almofadas de seda, pender delas como minúsculos morcegos,
e, pouco a pouco, mudarem de pele, revelando as crisálidas por baixo.
Com a hiperprecisão de sua visão microscópica,
a superfície sépia enrugada de cada crisálida parecia a Eden
o estranho terreno de algum mundo inexplorado.
Ontem, uma borboleta eclodiu antes do tempo.
Apenas farrapos no lugar das asas. Caiu no gramado,
e debulhou-se em círculos frenéticos até que uma pega
se aproximou sorrateira e a pegou. Tanta engenhosidade,
pensou Eden, tanta complexidade na concepção,
apenas para emergir tão desastrosamente errada.
À noite, em sua câmara de recarga, ele pensa
nelas em suas crisálidas, corpos se dissolvendo,
células se rearranjando, e nenhuma maneira de saber
o que restará de sua metamorfose.

Trad.: Nelson Santander

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Eden the Robot Gardener

He’s programmed to follow instructions:
lay down the mulch, deadhead the begonias,
keep the cherubs around the fountain birdshit free.
But since he discovered his master and mistress
cold and stiff in their kitchen one morning
he’s surprised himself by venturing off-piste,
devoting an hour to counting tadpoles, another to lifting
the stones around the pond to admire the oddballs
beneath: the woodlouse in its dusty suit of armour,
the millipede, divided into more segments
than the breakfast television his mistress would watch
as she sipped her oolong tea. Eden’s calls
to the emergency services had, gone unanswered,
so he used his detachable spade-arm to bury the humans
beneath their beloved weeping cherry. His mistress
had ordered him to get rid of the caterpillars
that were decimating the bougainvillae, but
he decided to let them pupate. He watched them
as they spun silk pads, hung from them like miniature bats,
and slowly shed their skins to reveal the chrysalids beneath.
With the hyper precision of his microscopic vision,
the crinkled sepia surface of each chrysalis seemed to Eden
like the strange terrain of some unexplored world.
Yesterday a butterfly hatched before it was ready.
Just ragged scraps for wings. It fell to the lawn,
scrabbled in frantic circles before a magpie
stalked over and snatched it up. All that industry,
thought Eden, that intricacy of conception,
only to emerge so calamitously wrong.
In his recharging chamber at night he thinks
of them in their chrysalids, bodies breaking down,
cells rearranging, no way of knowing
what will survive of their changing.