O Jesus da minha infância
prefere estar ao ar livre.
Se não está pescando, está colhendo figos
ou nos mostrando sua plantação de mostarda.
Ele gosta das estradas poeirentas, do pardal banal,
e dos lírios do campo.
Quando bate à sua porta
segurando uma lanterna, você sabe que é hora
de caçar as botas
e segui-lo para alimentar as ovelhas.
Mas esse pregador, que encara
a câmera e afirma conhecer
Jesus, diz que o que ele quer
é que eu creia nele
para que ele possa entrar.
Isso me cheira a trapaça.
Como um lobo que cobriu as patas de farinha1.
O Jesus que curava os cegos
disse que conheceremos uma árvore pelo fruto.
Trad.: Nelson Santander
- A imagem do lobo com as patas cobertas de farinha alude ao conto popular europeu, difundido pelos Irmãos Grimm (O lobo e os sete cabritinhos), no qual o lobo disfarça as patas para fingir ser a mãe dos cabritos e enganá-los. No poema, a metáfora sugere dissimulação e falsa piedade: alguém que se apresenta como inofensivo ou virtuoso para conquistar confiança e acesso. ↩︎
The Farm Wife Turns Off the TV Evangelist
The Jesus I grew up with
likes to be outside.
If he’s not fishing, he’s picking figs
or showing us his mustard crop.
He prefers dusty roads, the common sparrow,
and lilies of the field.
When he knocks on your door
holding a lantern, you know it’s time
to buckle on overshoes
and go with him to feed the sheep.
But this preacher, who looks straight
into the camera and claims he knows
Jesus, says what he wants
is for me to believe in him
so he can come inside.
That sounds shifty to me.
Like a wolf with his paws dipped in flour.
Jesus who heals the blind
said we will know a tree by its fruit.