Aprendi certa noite o que é ter estrelas
semeadas pela utilidade do corpo.
O sol, ele se fora –
cidades, redes, estradas chegavam a lugar nenhum.
Montei minha capela de lona, deitei-me sob seu céu
e senti o quão profundamente eu era efêmero –
ouvindo o capim branco dos brejos, os cavalos, o ar –.
Naquela noite, ouvi com uma nova aptidão
para o silêncio – unindo-me aos rebanhos de estrelas,
rastros de cascos cruzando o céu sobre sua propriedade –.
E o rangido de um espinho, e o silêncio do feldspato,
e o orvalho se acumulando em caliptras de musgo
conduziam ao meu corpo ligado à terra
sua antítese a todas as outras perdas.
Trad.: Nelson Santander
N. do T.: em uma nota sobre o poema acima, o autor esclareceu: “O camping selvagem é um remanescente frágil e desgastado de um envolvimento mais profundo, e a escrita deste poema é um apelo contra a crença de que paisagens poderosas são exclusivas para os ricos, reservadas para tipos específicos de recreação – caça, tiro – ou como oportunidades passageiras para fotos”.
Letter to a Land Owner
I learnt one night what it is to have the stars
sown through the utility of the body.
The sun, it went –
cities, networks, roads came to nowhere.
I set up my chapel of the canvas, lay under its sky
and felt how deeply I was momentary –
hearing bog cotton grass, the horses, the air –.
That night I heard with a new aptitude
for the silence – joined with the star herds,
hoof marks crossing the sky over your estate –.
And the creak of a thorn, and the feldspar’s quiet,
and the dew swelling on calyptras of moss
conducted into my earthed body
their antithesis to every other loss.