Se eu tivesse três vidas
Após “Melbourne”, dos The Whitlams
Se eu tivesse três vidas, em duas me casaria com você.
E a outra? Aquela vida, sabe,
na Starbucks, sentada sozinha, escrevendo — minhas memórias,
talvez um romance, ou este poema. Provavelmente sem filhos,
um pequeno apartamento com vista para o rio,
e livros — muitos livros e tempo para ler.
Amigos com quem rir; um homem de vez em quando,
por um fim de semana, para lembrar como é sentir
a pele viva. Sou mais magra nessa vida, vegana,
pratico ioga. Vou a filmes de artes, feiras orgânicas,
bebo martínis, usando saias rodadas e joias exuberantes.
Tiro férias na costa do Maine e visto a camisa de flanela
que o cara do fim de semana deixou para trás, amando o cheiro de suor
e loção pós-barba mais do que a ele. Caminho pela praia
ao nascer do sol, encontro conchas em espirais perfeitas e observo
os sulcos que a água deixou na areia. E às vezes me pergunto
se algum dia haverei de encontrar você.
Trad.: Nelson Santander
If I Had Three Lives
After “Melbourne” by the Whitlams
If I had three lives, I’d marry you in two.
And the other? That life over there
at Starbucks, sitting alone, writing — a memoir,
maybe a novel or this poem. No kids, probably,
a small apartment with a view of the river,
and books — lots of books and time to read.
Friends to laugh with; a man sometimes,
for a weekend, to remember what skin feels like
when it’s alive. I’m thinner in that life, vegan,
practice yoga. I go to art films, farmers markets,
drink martinis in swingy skirts and big jewelry.
I vacation on the Maine coast and wear a flannel shirt
weekend guy left behind, loving the smell of sweat
and aftershave more than I do him. I walk the beach
at sunrise, find perfect shell spirals and study pockmarks
water makes in sand. And I wonder sometimes
if I’ll ever find you.