Giusseppe Ungaretti – Céu Claro

Bosque de Courton, julho de 1918

Depois de tanta
névoa
uma
a uma
se desvelam
as estrelas

Respiro
o frescor
que me deixa
a cor do céu

Me reconheço
imagem
passageira

Presa de um ciclo
imortal

Giuseppe Ungaretti – Natal

Natal

Não tenho vontade
de mergulhar-me
em um novelo
de estradas

Carrego tanto
cansaço
sobre os ombros

Deixai-me assim
como uma

coisa
colocada
em um

canto
e esquecida

Aqui
não se sente
outra presença
que o calor bom

Estou
com as quatro
cabriolas
de fumaça
da lareira.

Trad.: Luigi Lucchesi

Salvatore Quasimodo – E De Repente é Noite

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Giacomo Leopardi – O Infinito

Sempre me foi cara esta colina erma
E esta sebe, que de muitos lados
Exclui a visão do último horizonte.
Mas sentado, contemplando, infindáveis
Espaços além dela, e sobre-humanos
Silêncios, e a mais profunda calma
Eu no pensar imagino; e por pouco
Não se amedronta o coração. E o Vento
Ouvindo sussurrar entre essas plantas,
Aquele infinito silêncio a esta voz
Vou comparando: e lembra-me o eterno,
E as estações mortas, e a presente
Viva, e o seu som. Assim na imensidão
Se afoga o meu pensar:
E o naufragar me é doce neste mar

Trad.: Paulo César de Souza

Giacomo Leopardi – O Infinito

Sempre cara me foi esta colina
Erma, e esta sebe, que de tanta parte
Do último horizonte, o olhar exclui.
Mas sentado a mirar, intermináveis
Espaços além dela, e sobre-humanos
Silêncios, e uma calma profundíssima
Eu crio em pensamentos, onde por pouco
Não treme o coração.
E como o vento
Ouço fremir entre essas folhas, eu
O infinito silêncio àquela voz
Vou comparando, e vêm-me a eternidade
E as mortas estações, e esta, presente
E viva, e o seu ruído.
Em meio a essa
Imensidão meu pensamento imerge
E é doce o naufragar-me nesse mar.

Trad.: Vinicius de Morais

Giuseppe Ungaretti – Daquela Estrela à Outra

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Giuseppe Ungaretti – Natal

Não me apetece
mergulhar
em um novelo
de estradas

Carrego tanto
cansaço
sobre os ombros

Deixe-me assim
como uma
coisa
pousada
em um
canto
e abandonada

Aqui
não se sente
senão
o bom calor

Estou
com as quatro
cabriolas
de fumo
da lareira

Salvatore Quasimodo – E de repente é noite

Cada um está só no coração da terra
traspassado por um raio de sol:
e de repente é noite.

Trad.: Geraldo Holanda Cavalcanti

Giuseppe Ungaretti – San Martino del Carso

Valloncello dell’Albero Isolato, 27 de agosto de 1916

Destas casas
nada sobrou
senão alguns
pedaços de muro

De quantos
me foram próximos
nada sobrou
nem tanto

No coração porém
nenhuma cruz me falta

É o meu coração
a região mais destroçada

Trad.: Geraldo Holanda Cavalcanti

Giuseppe Ungaretti – San Martino Del Carso
Valloncello dell’Albero Isolato il 27 agosto 1916

Di queste case
non è rimasto
che qualche
brandello di muro

Di tanti
che mi corrispondevano
non è rimasto
neppure tanto

Ma nel cuore
nessuna croce manca

È il mio cuore
il paese più straziato