Bosque de Courton, julho de 1918
Depois de tanta
névoa
uma
a uma
se desvelam
as estrelas
Respiro
o frescor
que me deixa
a cor do céu
Me reconheço
imagem
passageira
Presa de um ciclo
imortal
Nelson Santander
Bosque de Courton, julho de 1918
Depois de tanta
névoa
uma
a uma
se desvelam
as estrelas
Respiro
o frescor
que me deixa
a cor do céu
Me reconheço
imagem
passageira
Presa de um ciclo
imortal
Natal
Não tenho vontade
de mergulhar-me
em um novelo
de estradas
Carrego tanto
cansaço
sobre os ombros
Deixai-me assim
como uma
coisa
colocada
em um
canto
e esquecida
Aqui
não se sente
outra presença
que o calor bom
Estou
com as quatro
cabriolas
de fumaça
da lareira.
Trad.: Luigi Lucchesi
Sempre me foi cara esta colina erma
E esta sebe, que de muitos lados
Exclui a visão do último horizonte.
Mas sentado, contemplando, infindáveis
Espaços além dela, e sobre-humanos
Silêncios, e a mais profunda calma
Eu no pensar imagino; e por pouco
Não se amedronta o coração. E o Vento
Ouvindo sussurrar entre essas plantas,
Aquele infinito silêncio a esta voz
Vou comparando: e lembra-me o eterno,
E as estações mortas, e a presente
Viva, e o seu som. Assim na imensidão
Se afoga o meu pensar:
E o naufragar me é doce neste mar
Trad.: Paulo César de Souza
Sempre cara me foi esta colina
Erma, e esta sebe, que de tanta parte
Do último horizonte, o olhar exclui.
Mas sentado a mirar, intermináveis
Espaços além dela, e sobre-humanos
Silêncios, e uma calma profundíssima
Eu crio em pensamentos, onde por pouco
Não treme o coração.
E como o vento
Ouço fremir entre essas folhas, eu
O infinito silêncio àquela voz
Vou comparando, e vêm-me a eternidade
E as mortas estações, e esta, presente
E viva, e o seu ruído.
Em meio a essa
Imensidão meu pensamento imerge
E é doce o naufragar-me nesse mar.
Trad.: Vinicius de Morais
Não me apetece
mergulhar
em um novelo
de estradas
Carrego tanto
cansaço
sobre os ombros
Deixe-me assim
como uma
coisa
pousada
em um
canto
e abandonada
Aqui
não se sente
senão
o bom calor
Estou
com as quatro
cabriolas
de fumo
da lareira
Cada um está só no coração da terra
traspassado por um raio de sol:
e de repente é noite.
Trad.: Geraldo Holanda Cavalcanti
Valloncello dell’Albero Isolato, 27 de agosto de 1916
Destas casas
nada sobrou
senão alguns
pedaços de muro
De quantos
me foram próximos
nada sobrou
nem tanto
No coração porém
nenhuma cruz me falta
É o meu coração
a região mais destroçada
Trad.: Geraldo Holanda Cavalcanti
Giuseppe Ungaretti – San Martino Del Carso
Valloncello dell’Albero Isolato il 27 agosto 1916
Di queste case
non è rimasto
che qualche
brandello di muro
Di tanti
che mi corrispondevano
non è rimasto
neppure tanto
Ma nel cuore
nessuna croce manca
È il mio cuore
il paese più straziato