Fatimah Asghar – Divisão

você é caxemire1 até que queimem sua casa. tomem seus pomares. finquem uma bandeira diferente. até que ninguém se lembre do caminho que traz você de volta. você é indiana até que tracem uma fronteira através do punjab. até que os capitães britânicos cuspam paki2 enquanto tomam seu chai e adicionem tanta espuma que você não consiga sentir o sabor de casa. você fala seraiki3 até que sua boca se encha de inglês. você é paquistanesa até que seus colegas perguntem o que é isso. então você volta a ser indiana. ou algum tipo de espanhola. você fala uma língua até que não fale mais. até que só a reconheça entre os lábios de sua tia. seu pai era fluente em quatro línguas. você é analfabeta nas línguas de seu pai. seu avô escrevia poesia persa em vidros. talvez. você não se lembra. você inventou. alguém mentiu. você é a filha até enterrarem sua mãe. até não ser convidada para o funeral de seu pai. você é virgem até ficar bêbada demais. você é muçulmana até não ser mais virgem. você é paquistanesa até começarem a jogar ácido. você é muçulmana até ser perigosa demais. você está a salvo até estar sozinha. você é americana até as torres caírem. até que haja uma fronteira nas suas costas. 

Trad.: Nelson Santander

N. do T.: 1. Fatimah Asghar é uma poeta, roteirista e educadora nascida em 1991 em Chicago, EUA, com raízes paquistanesas e kashmiris. Suas origens culturais influenciam profundamente sua poesia, que muitas vezes explora questões de identidade, pertencimento, diáspora e as interseções de diferentes culturas e identidades. Ela é uma voz importante na cena literária contemporânea, especialmente por sua exploração de temas de marginalização, trauma e resiliência. 2. “Paki”: gíria depreciativa e ofensiva usada para se referir a pessoas de origem ou descendência sul-asiática, especialmente do Paquistão. 3. Seraiki: língua indo-ariana falada predominantemente na região de Punjab, no Paquistão, além de partes do nordeste do Afeganistão e da Índia.

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Partition

you’re kashmiri until they burn your home. take your orchards. stake a different flag. until no one remembers the road that brings you back. you’re indian until they draw a border through punjab. until the british captains spit paki as they sip your chai, add so much foam you can’t 
taste home. you’re seraiki until your mouth fills with english. you’re pakistani until your classmates ask what that is. then you’re indian again. or some kind of spanish. you speak a language until you don’t. until you only recognize it between your auntie’s lips. your father was fluent in four languages. you’re illiterate in the tongues of your father.  your grandfather wrote persian poetry on glasses. maybe. you can’t remember. you made it up. someone lied. you’re a daughter until they bury your mother. until you’re not invited to your father’s funeral. you’re a virgin until you get too drunk. you’re muslim until you’re not a virgin. you’re pakistani until they start throwing acid. you’re muslim until it’s too dangerous. you’re safe until you’re alone. you’re american until the towers fall. until there’s a border on your back.