Sean Thomas Dougherty – O Segundo O do Sofrimento

De alguma forma, ainda estou aqui, muito depois
dos rádios transístores, das fitas que meu pai tocava alto

dirigindo de cidade em cidade por Ohio,
vendendo coisas, a música que dançávamos

apenas para nos mantermos vivos. Percebo agora que não
deveria ter partido tão cedo, meio século

uma espécie de rocha que empurrei morro acima
& agora, por um momento, como Sísifo,

observo-a rolar.
Caminho pela neve.

Respiro o vento sujo do East Side
passando pela igreja russa, o odor

de peixes & cargueiros & da refinaria
preenchendo o vazio em meu peito — quantos anos

se acumularam desde que pela última vez cambaleei sobre o gelo
& me sentei para morrer?

Apenas para erguer os olhos para a geometria
do céu — & me levantar

para encarar quem quer que precisasse de mim —

Trad.: Nelson Santander

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The Second O of Sorrow

Somehow, I am still here, long after
transistor radios, the eight-tracks my father blared

driving from town to town across Ohio
selling things, the music where we danced

just to keep alive. I now understand I was not
supposed to leave so soon, half a century

a kind of boulder that I’ve pushed up the hill
& now for a moment, like Sisyphus

I watch it roll.
I walk through the snow.

I breathe the dirty East Side wind
pushing past the Russian church, the scent

of fish & freighters & the refinery
filling the hole in my chest—how many years

have piled since I last stumbled out onto the ice
& sat down to die.

Only to look up at the geometry
of sky—& stood

to face whoever might need me—

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