Peter Davidson – Castelos de Setembro

Os primeiros sinais de nossa condição se manifestam1:
Pesar no vento, véu de névoa sobre a lua,
Frio ligeiro, teias de aranha, grama embranquecida,
E dois dias quentes como no sul em nada alteram essa situação.
Uma manhã chega, e você sabe que isso não pode acabar bem.
Logo não será mais tempo de reuniões nos jardins;
Muito em breve, meus queridos, será a estação
Dos quintetos de Brahms, das folhas que vagam tristes além das janelas
Dos que estão sozinhos em seus quartos, isolados pela duração,
Para quem não é tempo de construir. Os que agora estão sós
Permanecerão assim durante essa estranha estação
De leitura, de escrever e-mails detalhados como cartas,
De observar as folhas secas se encharcarem nas calçadas vazias.
Rilke disse algo assim em versos que li pela última vez em Edimburgo,
Com minha tia mais bela em sua idade tardia,
Que, depois de tantas perdas, ainda se lembrava daqueles versos em alemão.

Trad.: Nelson Santander

  1. O poema September Castles de Peter Davidson é descrito pelo autor como “uma variação do Herbsttag de Rilke”. Enquanto o poema de Rilke celebra as últimas conquistas do verão antes de mergulhar na melancolia do outono, Davidson ajusta o tom, inserindo elementos de uma era digital e, possivelmente, do isolamento pandêmico. O trecho “e-mails detalhados como cartas” moderniza o sentimento de solidão e reflete um tempo de conexões frágeis, intensificando a sensação de perda iminente. Ambos os poemas compartilham o motivo da transitoriedade do outono e a solidão daqueles que não possuem uma “casa”, mas Davidson entrelaça memórias autobiográficas e referências locais (como Edimburgo) em uma expansão das paisagens emocionais de Rilke, com um toque mais urgente e sombrio. O poema de Rilke, na brilhante tradução de Nelson Ascher, já foi publicado no blog, e pode ser lido aqui. ↩︎

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September Castles

First hints of our condition manifest:
Spite in the wind, mist-gauze across the moon,
Light chill, the spider’s filaments, blanched grass,
And two days as warm as the south change nothing at all.
A morning comes when you know this cannot end well.
Soon it will be no time for gathering in gardens
All too soon, my dears, it will be the weather
For Brahms quintets, for leaves drifting triste past the windows
Of those in their rooms alone for the duration,
For whom this is no time to build. Those now alone
Are going to remain so through this estranging season
Of reading, of writing emails as detailed as letters,
Of watching dry leaves grow sodden on empty pavements.
Rilke said this in lines that I last read in Edinburgh
With my most beautiful aunt in hert later age
When, many things gone, she remembered those verse in German.

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