Sharon Olds – Quando dizem que você tem talvez três meses de vida

Em meu sono, sonhei que visitava seu túmulo —1
e o que jazia entre nós? A bela grama intocada
e o solo fértil, como a rica
terra em que você enterrou nossos lençóis
depois que o deixei — nosso DNA — perto de onde
mais tarde você enterrou seu golden retriever.
Também entre nós o novo teto
de pinho liso, o traje de linho
com que vestiram seu corpo recém-lavado e sem respiração,
a música de câmara terrosa das selvagens
criaturas espirais do submundo,
e seu tecido que tanto amei, e dentro dele o antigo
homem primordial de seu esqueleto.
Presa de narval, marfim de elefante,
símbolo de sua potência masculina e quadris estreitos
que cavalguei, remando no éden. Mas
não era sonho, eu estava bem desperta,
e você ainda não morreu. Posso ler isso para você
em uma semana, diante do fogão a lenha,
as labaredas curvando-se nas pontas e desaparecendo,
ou junto à lagoa, a água ondulando,
ovais de tsuga e faia2 trocando de lugar nela.
Às vezes, você adormece enquanto estou falando.
E diz: quero que leia um poema para mim quando eu morrer.
E: não vamos parar de escrever um para o outro quando eu estiver morto.
E quando eu também estiver!, eu digo. Quando nos conhecemos,
embora tenhamos nos apaixonado imediata e permanentemente,
não conseguimos estabelecer uma união de duas almas,
nem quando parti — cada um de nós teve que
trabalhar, em si mesmo, por anos, para chegar lá.
E agora chegamos! Talvez isso tenha sido
morte o tempo todo! Talvez a vida seja uma
espécie de morte. Talvez isso já fosse o paraíso.

Trad.: Nelson Santander

  1. O poema “Quando dizem que você tem talvez três meses de vida” (“When They Say You Have Maybe Three Months Left”) foi publicado na mais recente coletânea de Sharon Olds, Balladz (2022), que foi finalista do National Book Award de poesia. Ele integra a seção final intitulada Elegias, dedicada a temas de perda e luto, especialmente a morte de seu parceiro, Carl Wallman. Nesse contexto, Olds reflete sobre a fragilidade da vida e a complexidade das relações humanas, questionando a essência da vida e da morte. ↩︎
  2. As árvores mencionadas pertencem às famílias das pináceas (como a tsuga) e das fagineas (como a faia), que são encontradas em diversas regiões temperadas do hemisfério norte, incluindo a Europa e a América do Norte. Os “ovais” referidos no poema são as sementes ou frutos produzidos por essas árvores, que caem ao chão e podem ser identificados como coníferas ou pinhos, dependendo da espécie. Essas estruturas apresentam formatos ovais ou arredondados, evocando a imagem de um ambiente natural dinâmico, onde folhas e sementes se misturam à superfície da água da lagoa, simbolizando continuidade e transformação na natureza. ↩︎

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When They Say You Have Maybe Three Months Left

In my sleep, I dreamed that I came to your grave—
and what lay between us? The beautiful uncut
hair of the grass, and topsoil like the rich
dirt in which you buried our sheets
after I left you—our DNA—near where
you later buried your golden dog.
Also between us the new ceiling
of plain pine, and the linen garment
your fresh-washed unbreathing body had been clothed in,
and the earthen chamber music of wild,
underworld, spiral creatures,
and your tissue I have loved, and within it the ancient
primordial man of your skeleton.
Narwhal tusk, elephant ivory,
icon of your narrow-hipped male power
I rode, rowing in eden. But
it was no dream, I lay broad waking,
and you have not died yet. I can read this to you
in a week, in front of the woodstove,
the flames curving up to points and disappearing,
or beside the pond, the water rippling,
ovals of hemlock and beech changing places in it.
Sometimes you fall asleep as I’m talking to you.
And you’ve said: I want you to be reading me a poem when I die.
And, Let’s not stop writing to each other when I’m dead.
And when I’m dead too! I said. When we met,
though we fell in love immediate and permanent,
we could not make a two-soul union,
nor when I left—each of us had to
work, on ourselves, for years, to get there.
And now we are there! Maybe this has been
death all along! Maybe life is a
kind of dying. Maybe this has been heaven.

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