Depois do segundo drinque no restaurante,
de mãos dadas sobre a mesa vazia,
estamos novamente nessa, renovando nossa promessa
de matar um ao outro. Vocês bebe gim,
bagas de zimbro azul-noturno
se dissolvendo em seu corpo, eu bebo Fumé1,
degustando seu aroma terroso e defumado, estamos
ocupando a terra, já somos parte do solo,
e onde quer que estejamos, também estamos em nossa
cama, encaixados, nus, colados
um ao outro, meio desfalecidos
depois do amor, flutuando
de um lado para o outro através da fronteira da consciência,
nossos corpos leves, abraçados. Sua mão
se contrai sobre a mesa. Você tem medo
de que eu me acovarde. O que você não quer
é ficar deitado em uma cama de hospital por um ano
depois de um derrame, sem conseguir
pensar ou morrer, você não quer
ficar preso a uma cadeira como uma avó empertigada,
praguejando. O salão está escuro ao nosso redor,
globos de marfim, cortinas rosa,
amarradas na cintura – e lá fora,
um crepúsculo de verão leve, luminoso e
altivo. Digo-lhe que você não
me conhece se pensa que não sou capaz
de matá-lo. Pense em como flutuamos juntos,
olho no olho, mamilos nos mamilos,
sexo no sexo, metades de uma criatura
subindo até a crista da matéria
e além – você me conhece da sala de partos brilhante
e salpicada de sangue, se um leão
tivesse você entre as mandíbulas, eu o atacaria, se os cordames
que atam sua alma são seus próprios pulsos, eu os cortarei.
Trad.: Nelson Santander
- A autora provavelmente se refere ao Pouilly-Fumé, um tipo de vinho branco seco, produzido na região de Pouilly-sur-Loire, no departamento de Nièvre, França. O nome “Pouilly” é uma abreviação de Pouilly-sur-Loire, a aldeia de onde os vinhos vêm, e “Fumé” é uma abreviação de Blanc Fumé, que é o apelido local para Sauvignon Blanc. ↩︎
The Promise
With the second drink, at the restaurant,
holding hands on the bare table,
we are at it again, renewing our promise
to kill each other. You are drinking gin,
night-blue juniper berry
dissolving in your body, I am drinking Fume,
chewing its fragrant dirt and smoke, we are
taking on earth, we are part soil already,
and wherever we are, we are also in our
bed, fitted, naked, closely
along each other, half passed out
after love, drifting back
and forth across the border of consciousness,
our bodies buoyant, clasped. Your hand
tightens on the table. You’re a little afraid
I’ll chicken out. What you do not want
is to lie in a hospital bed for a year
after a stroke, without being able
to think or die, you do not want
to be tied to a chair like a prim grandmother,
cursing. The room is dim around us,
ivory globes, pink curtains,
bound at the waist – and outside,
a weightless, luminous, lifted-up
summer twilight. I tell you you do not
know me if you think I will not
kill you. Think how we have floated together
eye to eye, nipple to nipple,
sex to sex, the halves of a creature
drifting up to the lip of matter
and over it – you know me from the bright, blood-
flecked delivery room, if a lion
had you in its jaws I would attack it, if the ropes
binding your soul are your own wrists, I will cut them.