Kay Ryan – As coisas não deveriam ser tão difíceis

Uma vida deveria deixar
rastros profundos:
sulcos onde ela
foi e voltou
para pegar a correspondência
ou mover a mangueira
pelo jardim;
onde ela costumava
ficar em frente à pia,
um lugar desgastado;
sob sua mão,
os puxadores de porcelana
gastos até virarem
pastilhas brancas;
o interruptor quase apagado
que ela costumava
procurar no escuro.
Suas coisas deveriam
guardar suas marcas.
A passagem
de uma vida deveria ser visível,
causar abrasão.
E quando a vida terminasse,
um certo espaço —
por menor que fosse —
deveria ficar marcado
pelo grandioso e
devastador desfile.
As coisas não deveriam
ser tão difíceis.

Trad.: Nelson Santander

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Things Shouldn’t Be So Hard

A life should leave
deep tracks:
ruts where she
went out and back
to get the mail
or move the hose
around the yard;
where she used to
stand before the sink,
a worn-out place;
beneath her hand
the china knobs
rubbed down to
white pastilles;
the switch she
used to feel for
in the dark
almost erased.
Her things should
keep her marks.
The passage
of a life should show;
it should abrade.
And when life stops,
a certain space—
however small —
should be left scarred
by the grand and
damaging parade.
Things shouldn’t
be so hard.

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