ouvidos
Quando estou sozinha,
sento os mortos à mesa
e dou-lhes de comer –
um prato a cada um, em
troca dessas histórias que
morro de saudades de os
ouvir contar. E escuto-os
com a velha paixão – tal
qual estivessem vivos –
para não me fugirem as
suas vozes da memória.
Às vezes choro, claro –
e nem é por eles já não
terem dentes e me
deixarem quase tudo no
prato; mas por os ver ali,
ao pé de mim, e me sentir
na mesma tão sozinha.
Maria do Rosário Pedreira – ouvidos