Jen Lambert – Um grande cômodo vazio

Quando recebemos o resultado, meu pai me envia uma mensagem.
Ele diz que deveríamos esperar para contar a ela.
Ele diz: deixe-a ter mais um Natal feliz,
o que significa que ele quer ter mais um Natal feliz,
o que significa que ele está com medo.

É por telefone que damos a notícia a ela.
Nossas vozes, simples vibrações
que lançamos uns para os outros,
transportam sua doença através das divisas estaduais,
da orelha de minha irmã para minha orelha para a orelha de meu pai
para a boca de minha mãe, em prantos.

Minhas filhas a visitam durante a semana.
Elas dizem que ela gosta de contar histórias de quando eu era jovem.
São histórias das quais não me lembro, e me pergunto
se ela não as está imaginando. Eu me pergunto
se não estou desaparecendo com ela.

Ela chorou quando contei que estava grávida,
que não iria mais para a faculdade de direito.
Não faça isso, ela soluçou ao telefone,
você se esquecerá de si mesma e nunca mais encontrará o caminho de volta.

Agora ela chora
quando não consegue se lembrar da palavra loja. Ela diz:
aquele lugar onde você compra coisas e nós sabemos o que ela quer dizer.
Ela chora porque as partes moribundas do seu cérebro
a fazem crer que seu marido está tendo um caso,
que a vizinha está alimentando o cachorro dela
com ossos de galinha através da cerca,
que alguém roubou o cortador de grama.

Minha mãe aponta para uma mação e diz telefone.

Na última vez que falei com minha mãe, ela me disse: Não estou pronta.
Ela disse: Não quero partir, e quando penso
em uma vida sem minha mãe, vejo apenas um grande cômodo vazio.

Minhas filhas costumavam brincar de telefone com latas de sopa,
um longo barbante esticado escada
abaixo, passando pela cozinha, sobre o encosto do sofá.

Você pode me ouvir?, gritavam elas, as bordas das latas
pressionadas contra os ouvidos. Você está aí?

Ela não se lembra mais do meu número de telefone
e, quando ligo para ela, quero perguntar à mulher que atende:
Pode passar o telefone para minha mãe, por favor?

Sua voz sempre soa tão distante.
O fio entre nós está quase se partindo.

Coloque o telefone mais perto da boca, mãe, eu direi.
Alô? ela responderá. Quem é? Você está aí?
Você está aí?

Trad.: Nelson Santander

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One big, empty room

When we get the results, my dad texts me.
He says we should wait to tell her.
He says, let her have one more good Christmas,
which is to say, let him have one more good Christmas,
which is to say he’s afraid.

When we do tell her, we do it over the phone.
Our voices, simple vibrations
we throw back and forth to each other,
carry her disease across state lines,
my sister’s ear to my ear to my father’s ear
to my mother’s mouth, wailing.

My daughters visit her during the week.
They say she likes to tell stories of when I was young.
They’re stories I don’t remember, and I wonder
if she’s imagining them. I wonder
if I am disappearing with her.

She cried when I told her that I was pregnant,
that I wouldn’t be going to law school.
Don’t do it, she sobbed into the phone,
you’ll forget yourself and you’ll never find your way back.

Now she cries
when she can’t remember the word for store. She says
that place you go to buy things and we know what she means.
She cries because the dying parts in her brain
make her believe that her husband is having an affair,
that the neighbor is feeding her dog
chicken bones through the fence,
that someone has stolen the lawn mower.

My mother points to an apple and says phone.

The last time I spoke to her, she said I’m not ready.
She said I don’t want to leave, and when I think
of a life without my mother, it is one big, empty room.

My daughters used to play telephone with soup cans,
a long length of string stretched
down the stairs, through the kitchen, over the back of the couch.

Can you hear me? they would yell, tin rims
pressed tight against their ears. Are you there?

She doesn’t remember my phone number anymore,
and when I call her, I want to ask the woman who answers,
Can you put my mom on please?

Her voice always sounds so far away.
The string between us stretched close to snapping.

Put the phone closer to your mouth, Mom, I’ll say.
Hello? she’ll say. Who is this? Are you there?
Are you there?

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