Certa vez, conheci um homem que desejava nunca ter nascido.
Ele falava sério quando dizia isso.
Ele não era um poseur.
Nos poucos e radiantes anos em que o conheci,
Ele nunca falava para causar impacto.
Ele dizia o que queria dizer, eu me lembro,
silenciosa e cuidadosamente,
enquanto tomávamos chá com torrada e ovos mexidos
em uma daquelas manhãs perfeitas
que sempre sucedem
a uma noite de êxtase.
Ele tinha a maneira luminosa de falar
daqueles em profundo desespero.
Tornava-se uma alegria estar com ele.
Ele via o lado engraçado de quase tudo.
Eu sabia que ele falava sério
quando se retirou decorosamente
com pílulas para dormir e vodka.
Sem forca, sem lâminas de barbear, sem sangue na banheira,
e nada tão perversamente imprudente
como um repentino mergulho sob um trem que se aproxima –
ele valorizava a sutileza.
Não revelarei seu nome.
Ele não teria desejado.
Ele verdadeiramente preferia o esquecimento.
Foi o habitat que ele escolheu.
Trad.: Nelson Santander
Nocturnal
I knew a man once who wished he hadn’t been born.
He meant what he said.
He wasn’t a poseur.
In the few, radiant years I knew him
He never spoke for effect.
He said what he meant, I remember,
quietly, thoughtfully,
over tea and scrambled eggs on toast
on one of those perfect mornings
that always follows
a night of rapture.
He had the bright way of speaking
of those in the deepest despair.
He made himself a joy to be with.
He saw the funny side of almost everything.
I knew he had meant what he said
when he departed decorously
with sleeping pills and vodka.
No noose, no razor blades, no blood in the bath,
And nothing so wickedly inconsiderate
as a sudden plunge under an oncoming train –
he valued understatement.
I shan’t reveal his name.
He wouldn’t have wanted me to.
He really did prefer oblivion.
It was his chosen habitat.
1 Comentário