Vladimir Holan – A Neve

A neve começou a cair à meia-noite. E não há dúvida
de que o melhor para o homem é estar sentado na cozinha,
ainda que seja a da insônia.
Ali faz calor, preparas-te algo, bebes vinho
e contemplas pela vidraça a eternidade familiar.
Por que te angustiarias querendo saber se nascimento e morte são apenas dois pontos,
sabendo que a vida não é uma linha reta?
Por que te torturarias ao ver o calendário
e te inquietarias querendo saber o que está em jogo?
Por que admitirias que não tens dinheiro sequer
para comprar um par de sapatos para Saskia?
E por que haverias de vangloriar-se
de que sofres mais que os outros?

Mesmo que não houvesse silêncio na terra,
Esta neve já o teria criado em seu sonho.
Estás só. Nenhum gesto. Nada a ostentar.

Trad.: Nelson Santander a partir de versão do poema em espanhol traduzido por Josef Forbelski

REPUBLICAÇÃO, com pequenas alterações na tradução: poema publicado na página originalmente em 22/01/2019

Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia viva em nosso blog

Vladimir Holan – La Nieve

La nieve empezó a caer a medianoche. Y no hay duda
de que como mejor está el hombre es sentado en la cocina,
aunque sea la del insomnio.
Allí se está caliente, te preparas cualquier cosa, bebes vino
y contemplas por la ventana la eternidad familiar.
Por qué ibas a atormentarte queriendo saber si nacimiento y muerte son sólo dos puntos,
sabiendo que la vida no es una línea recta…
Por qué te ibas a torturar al ver el calendario
y a inquietarte queriendo saber qué valor hay en juego.
¿Y por qué ibas a confesarte que no tienes dinero
para comprarle unos zapatos a Saskia?
¿Y por qué ibas a jactarte
de que sufres más que los otros?

Aunque no hubiese silencio en la tierra
este nevar ya lo habría creado en su sueño.
Estás solo. Ni un gesto. Nada de ostentación.

Deixe um comentário