Vijay Seshadri – Chaleiras Reluzentes de Cobre

Amigos mortos voltando à vida, famílias falecidas
falando línguas vivas e mortas, suas mentes retentivas,
os cinco sentidos intactos, suas pegadas como as de borboletas,
a compaixão brilhando em rostos indulgentes —
esta é uma das minhas coisas favoritas.
Gosto tanto disso que passo o tempo todo dormindo.
Lua de dia e sol à noite me encontram disperso
nos sonhos profundos onde eles aparecem.
Nos campos de varas-de-ouro, na cidade das cinco pirâmides,
diante da imperatriz com o rosto derretido, sob
a sombra do majestoso Plátano, eles simplesmente surgem.
“Está tudo bem”, parecem dizer. “Sempre esteve”.
Eles são tímidos e polidos.
(Quem diria que os mortos fossem tão educados?)
Eles não querem assustar; suas cabeças não giram feito cata-ventos.
Eles não almejam meu corpo,
nem possuir a terra ou se vingar.
Estão mortos, entende?, eles não existem. E, além do mais,
por que se importariam? Eles são subatômicos, horizontais. Pense nisso.
Um deles timidamente me oferece um lápis.
Os olhos sob as pálpebras movem-se cada vez mais rápido.
Pelo interfone da casa em que há tanto tempo não se ouve música,
o reverendo Al Green canta:
“Nunca pude vislumbrar o amanhã.
Nunca me contaram sobre a tristeza”.

Trad.: Nelson Santander

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Bright Copper Kettles

Dead friends coming back to life, dead family,
speaking languages living and dead, their minds retentive,
their five senses intact, their footprints like a butterfly’s,
mercy shining from their comprehensive faces—
this is one of my favorite things.
I like it so much I sleep all the time.
Moon by day and sun by night find me dispersed
deep in the dreams where they appear.
In fields of goldenrod, in the city of five pyramids,
before the empress with the melting face, under
the towering plane tree, they just show up.
“It’s all right,” they seem to say. “It always was.”
They are diffident and polite.
(Who knew the dead were so polite?)
They don’t want to scare me; their heads don’t spin like weather vanes.
They don’t want to steal my body
and possess the earth and wreak vengeance.
They’re dead, you understand, they don’t exist. And, besides,
why would they care? They’re subatomic, horizontal. Think about it.
One of them shyly offers me a pencil.
The eyes under the eyelids dart faster and faster.
Through the intercom of the house where for so long there was no music,
the right Reverend Al Green is singing,
“I could never see tomorrow.
I was never told about the sorrow.”

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