Sharon Olds — Cemitério de Leningrado, Inverno de 1941

Naquele inverno, os mortos não puderam ser enterrados.
O solo estava congelado, os coveiros fracos de fome,
a madeira dos caixões era usada como combustível. Por isso, eles foram cobertos com algo
e levados em um trenó de criança para o cemitério,
no ar abaixo de zero. Eles jaziam no solo,
alguns envoltos em um pano escuro
amarrado com corda como a bola de raízes da árvore
que espera para ser plantada; outros estavam enrolados em lençóis,
suas formas pálidas, cobertas de gaze, cônicas,
rígidas como casulos que se abrirão ao meio
quando a nova vida dentro deles estiver pronta;
mas a maioria jazia como cadáveres, suas coberturas
se desfazendo, as panturrilhas nuas
duras como feixes de madeira espalhados
por debaixo de um manto, uma mão estendida
sem sinal de paz, ansiando voltar
até mesmo para o pão feito de cola e serragem,
até mesmo para o inverno glacial, e o cerco.

Trad.: Nelson Santander

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Leningrad Cemetery, Winter of 1941

That winter, the dead could not be buried.
The ground was frozen, the gravediggers weak from hunger,
the coffin wood used for fuel. So they were covered with something
and taken on a child’s sled to the cemetery
in the sub-zero air. They lay on the soil,
some of them wrapped in dark cloth
bound with rope like the tree’s ball of roots
when it waits to be planted; others wound in sheets,
their pale, gauze, tapered shapes
stiff as cocoons that will split down the center
when the new life inside is prepared;
but most lay like corpses, their coverings
coming undone, naked calves
hard as corded wood spilling
from under a cloak, a hand reaching out
with no sign of peace, wanting to come back
even to the bread made of glue and sawdust,
even to the icy winter, and the siege.

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