Eu era, e agora sou.
Há tanto a expressar nessas poucas palavras.
Às vezes, essa mudança é doçura,
Um beijo, um afago. Às vezes,
Nada nos alerta. Não podemos prever.
É imposto a nós. Uma arma,
Um terremoto, uma inundação — qualquer um dos terríveis
Horrores deste mundo.
Nesses momentos, não pedimos,
Não temos a chance de respirar fundo,
É simplesmente o fim de um capítulo
E a primeira página do próximo. Somos lançados
Em águas profundas e ficamos com raiva,
Estamos com raiva, estamos com raiva.
Não sabíamos nadar, mas agora nadamos —
Precisamos nadar.
Não é justo. Nunca é justo.
Não temos chance de participar da decisão
Que nos transforma.
Nós éramos, e agora somos. Lamentavelmente,
Não estamos sós. Se é um de nós,
Somos todos nós, são muitos de nós.
Nós éramos, e agora somos.
Doçura ou crueldade, subitaneidade, choque,
Um toque áspero que pode significar:
Nós mudamos.
Se foi um beijo, nossas vidas são poderosamente direcionadas
Para a leveza.
Mas quando não é doçura, não é um beijo,
vivemos o resto da vida como alguém diferente,
Mas alguém que ainda somos nós.
Se tivéssemos uma arma, ou porque tínhamos uma arma,
Se as coisas tivessem sido diferentes, melhores,
Se a reabilitação tivesse sido mais eficaz,
Se Deus tivesse intervindo, se alguém tivesse ouvido:
Estaríamos vivendo no mundo normal.
Poderíamos olhar para os coelhos ao longo da rodovia
E para as montanhas azuis e desgastadas ao longe
Como qualquer um.
Mas cinco anos depois de algo ter nos acontecido,
Não somos mais qualquer um.
As lebres e as montanhas de Tucson —
As amamos, não facilmente, mas intensa, intensamente
Do novo jeito que tivemos que encontrar.
As amamos como quem agora somos.
Amamos porque isso é o que resta.
Trad.: Nelson Santander
Five Years Later
I was, and now I am.
So much goes into the saying of those few words.
Sometimes this change is sweetness,
A kiss, a caress. Sometimes,
Nothing warns us. It cannot be thought by us.
It is done to us. A gun,
An earthquake, a flood—any of the muscular
Horrors of this world.
In those instances, we don’t ask for it,
We don’t get to take a deep breath,
It is simply the end of the chapter
And page 1 of the next. We are thrown
Into the deep water and we are angry,
We are angry, we are angry.
We could not swim, but now we are swimming—
We have to swim.
It is not fair. It is never fair.
We have no chance to be part of the decision
That changes us.
We were, and then we are. Regrettably,
We are not alone. If it is one of us,
It is all of us, so many of us.
We were, and now we are.
Sweetness or cruelty, suddenness, shock,
A rough touch that could be either:
We are changed.
If it has been a kiss, our lives are turned powerfully
Toward lightness.
But when it is not sweetness, not a kiss,
We live the rest of our lives as someone else,
But someone who is still us.
If we had a gun, because we did have a gun,
If things had gone differently, better,
If the rehab had been more effective,
Had God stepped in, had anyone heard:
We would be living in the regular world.
We could look at the rabbits along the highway
And the blue, ragged mountains in the distance
Like anyone.
But five years after something has happened to us
We are not the anyone.
The jackrabbits and the Tucson Mountains—
We love them, not easily but fiercely, fiercely
In the new way we have had to find.
We love them as who we are now.
We love because that’s what’s left.