Sharon Olds – Minha mão

Quando olho para a minha mão, e para o dorso do meu pulso,
brilhando com o petrolato que
esfreguei em suas fissuras — óleo mineral,
ceresina, lanolina, pantenol, glicerina,
bisabolol, vejo as rugas
finas, muitas formando losangos,
algumas delas longas cicatrizes vacilantes —
isso me parece comovente e afortunado. E eu gosto
das veias salientes do dorso da minha mão.
Faço parte de um casal. Meu parceiro está em
um traje de linho, numa caixa de pinho,
em New Hampshire — em uma terra consagrada no cemitério
judeu. Eu lhe digo, Carl1,
meu querido, está tudo bem, seu tecido
se dissolverá na terra quando chegar a primavera,
está tudo bem, você não pode mudar a forma
chocante do seu corpo que amo, você é inocente
na morte, você é bom.
Nós somos um casal. Lembra quando eu subi em sua cama
estreita de hospital, quando você mal conseguia se mexer,
e assim que me encaixei ao
seu lado, como a última peça de um quebra-cabeça,
nós dois desmaiamos de sono? Quando dirigi para o norte,
para fora de uma cidade de peste1, meu carro —
o seu carro, que você me vendeu pelo preço de tabela —
estava cheio de cadernos nos quais nossas histórias
são mantidas, equilibradas em sua lenta dança
para cima e para baixo. Minha epiderme
parece bonita, para mim, esta noite, frágil
e tangível, como córregos na areia onde a água
ondeia. Gostei de conversar com você sobre a
coroa de ouro que o rabino da internet
disse que você usaria depois de morto,
no banquete. E agora amo ver que
na teia da pele brilhante do meu pulso, eu já
faço parte de ti, suave e
permanente é a noite.

Trad.: Nelson Santander

  1. Carl Wallman, companheiro de longa data de Sharon Olds que morreu em fevereiro de 2020, poucas semanas antes da pandemia de Covid-19 explodir.
  2. Balladz, o livro mais recente da poeta, publicado no ano passado, e do qual foi extraído este poema, foi escrito em grande parte durante a quarentena de Covid-19 . Essa é a “peste” à qual ela se refere. 

My hand

When I look at my hand, and at the back of my wrist,
gleaming with the petrolatum which I’ve
rubbed into its chap—mineral oil,
ceresin, lanolin, panthenol, glycerin,
bisabolol, I see the fine
wrinkles, many making diamond shapes,
some of them long cicatrice wobbles—
it looks touching to me, and lucky. And I like
the veins which bulge up from the back of my hand.
I’m a member of a couple. My partner is in
a linen shift, a pine box,
a New Hampshire earth—sacred in the Jewish
cemetery. I say to you, Carl,
my darling, it’s O.K. your tissue
will melt with the dirt when spring comes,
it’s O.K. you cannot change the shock-
shape of your body I love, you are innocent
of death, you are good.
We are a couple. Remember when I climbed into your narrow
hospice bed, when you could hardly move,
and as soon as I fitted myself in
along you, like the last piece of a puzzle,
we both passed out into sleep. When I drove north,
out of a city of plague, my car—
your car which you sold me for the list price—
was packed with notebooks in which our stories
are held, balanced in their slow dance
up and down and up. My epidermis
looks pretty, to me, tonight, frail
and real, like rills in sand which water
rippled. I liked to talk with you about the
golden crown the internet rabbi
said you would be wearing, after death,
at the feast. And I love, now, seeing
in the web of my glistening wrist-skin that I am
already part with thee, tender and
permanent is the night.

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