VII
Eis que acabou o tempo dos inícios,
tendo durado o exato suficiente
pra formação do hábito (ou vício)
de habitar não um mísero presente,
mas um futuro sempre a exigir
rigorosíssimo planejamento,
até que se escute a ficha cair:
o tempo se esgotou.
Chegou o momento
de enfim viver conforme o planejado,
ou então — se o plano não ficou pronto —
de se pôr todo o projeto de lado
e, improvisando cada gesto e passo,
rodar em círculos, perplexo, tonto,
a repetir o mantra: "Eu sei o que faço".
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XIII
Era o momento? Era. Foi. A hora
exata só se sabe quando já
passou. O tempo nunca se demora
demais. E tudo que acontece está
certo a priori, por definição.
O destino se escreve a posteriori.
A realidade sempre tem razão,
atroz que seja, por mais que piore.
Já o que se esquece deixa de ter sido.
É como uma borracha vindo atrás
do lápis, conservando uma distância
respeitosa, sempre com a mesma ânsia
de apagar. Tinta ou lápis. Tanto faz.
Escreve. Isto também será esquecido.
BRITTO, Paulo Henriques. “Fim de Verão”. In:_ Fim de Verão. São Paulo: Companhia das Letras, 2022