Tarso de Melo – Hoje

Amanhã vai chover mais forte,
todos nós já sabemos.
E é estranha a calma dos rios

Os guarda-chuvas seguem fechados,
os meteorologistas fingem não ter nada com isso,
o barro não demonstra qualquer apreensão,
o vento lambe as roupas secas no varal,
nenhuma janela ainda se fechou.

A água vai vir, forte, como sempre,
engolindo todo o sossego ao redor,
mas os buracos não confessam
as tristes poças de amanhã.

As casas, as coisas, as vidas,
o que sucumbirá ao mar inevitável
não dá sequer um suspiro,
não se despede de nós, de nada.

Plantamos no solo morto
esse esquecimento do futuro
– e tudo o que brota chamamos

hoje.

Deixe um comentário