Nem tudo está perdido
Nem sinal de pedra no peito
O horóscopo do jornal
Arriscou “um belo dia”
Liguei o rádio na hora certa
Era a canção que eu queria
Nem tudo está perdido
Tudo em paz no reino da química
Ninguém me telefonou
Enquanto eu dormia
Sonhei com meu pai e ele sorria
Chimarrão pra acordar era só o que eu queria
Veja você, que surpresa, que coisa incrível:
Descobri que sou feliz!
Veja você, quem diria?, que ironia:
Sem você eu sou feliz…
Nem tudo está perdido
Outono em Porto Alegre
Sou o dono dos meus passos
Sobre folhas mortas
O mundo fica pra outro dia
Andar por aí era tudo que eu queria.
Veja você, que surpresa, que coisa incrível:
Descobri que sou feliz!
Veja você, quem diria?, que ironia:
Sem você eu sou feliz…
Eu insisto em cantar
Diferente do que ouvi
Seja como for recomeçar
Nada há, mais há de vir
Me disseram que sonhar
Era ingênuo, e daí?
Nossa geração não quer sonhar
Pois que sonhe a que há de vir
Eu preciso é te provar
Que ainda sou o mesmo menino
Que não dorme a planejar travessuras
– E fez do som da tua risada um hino
Agora que a terra é redonda
E o centro do universo é outro lugar
É hora de rever os planos
O mundo não é plano, não pára de girar
Agora que tudo é relativo
Não há tempo perdido, não há tempo a perder
Num piscar de olhos tudo se transforma
Tá vendo? Já passou!
Mas ao mesmo tempo
Fica o sentimento
De um mundo sempre igual
Igual ao que já era
De onde menos se espera
Dali mesmo é que não vem
Agora que tudo está exposto
A máscara e o rosto trocam de lugar
Tô fora se esse é o caminho
Se a vida é um filme, eu não conheço diretor
Tô fora, sigo o meu caminho
Às vezes tô sozinho, quase sempre tô em paz
Num piscar de olhos tudo se transforma
Tá vendo? Já passou!
Mas ao mesmo tempo
Esse mundo em movimento
Parece não mudar
É igual ao que já era
De onde menos se espera
Dali mesmo é que não vem
Visão de raio-x
O x dessa questão
É ver além da máscara
Além do que é sabido, além do que é sentido
Ver além da máscara
O homem velho deixa a vida e morte para trás
Cabeça a prumo, segue rumo e nunca, nunca mais
O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais
O homem velho é o rei dos animais
A solidão agora é sólida, uma pedra ao sol
As linhas do destino nas mãos a mão apagou
Ele já tem a alma saturada de poesia, soul e rock’n’roll
As coisas migram e ele serve de farol
A carne, a arte arde, a tarde cai
No abismo das esquinas
A brisa leve traz o olor fugaz
Do sexo das meninas
Luz fria, seus cabelos têm tristeza de néon
Belezas, dores e alegrias passam sem um som
Eu vejo o homem velho rindo numa curva do caminho de Hebron
E ao seu olhar tudo que é cor muda de tom
Os filhos, filmes, ditos, livros como um vendaval
Espalham-no além da ilusão do seu ser pessoal
Mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual
Já tem coragem de saber que é imortal