Giuseppe Ungaretti – Não gritem mais

Parem de matar os mortos,
Não gritem mais, não gritem
Se ouvir ainda os quiserem,
Se imperecer ainda esperam.

Eles, sussurro imperceptível,
Não fazem mais ruído
Que o mato quando cresce,
Alegre, onde homem não passa.

Trad.:  Aurora Bernardini

Giuseppe Ungaretti – Peso

    Mariano, 29 de junho de 1916

Aquele camponês
se fia na medalha
de Santo Antonio
e segue tranquilo

Mas bem só e bem nua
sem qualquer miragem
carrego minha alma

Trad.: Geraldo Holanda Cavalcanti

Giusseppe Ungaretti – Céu Claro

Bosque de Courton, julho de 1918

Depois de tanta
névoa
uma
a uma
se desvelam
as estrelas

Respiro
o frescor
que me deixa
a cor do céu

Me reconheço
imagem
passageira

Presa de um ciclo
imortal

Giuseppe Ungaretti – Natal

Natal

Não tenho vontade
de mergulhar-me
em um novelo
de estradas

Carrego tanto
cansaço
sobre os ombros

Deixai-me assim
como uma

coisa
colocada
em um

canto
e esquecida

Aqui
não se sente
outra presença
que o calor bom

Estou
com as quatro
cabriolas
de fumaça
da lareira.

Trad.: Luigi Lucchesi

Giuseppe Ungaretti – Daquela Estrela à Outra

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Giuseppe Ungaretti – Natal

Não me apetece
mergulhar
em um novelo
de estradas

Carrego tanto
cansaço
sobre os ombros

Deixe-me assim
como uma
coisa
pousada
em um
canto
e abandonada

Aqui
não se sente
senão
o bom calor

Estou
com as quatro
cabriolas
de fumo
da lareira

Giuseppe Ungaretti – Eterno

Entre uma flor colhida e o dom de outra
o nada inexprimível

Trad.: Haroldo de Campos

Giuseppe Ungaretti – Eterno

Tra un fiore colto e l’ altro donato
l’ inesprimibile nulla.

Giuseppe Ungaretti – San Martino del Carso

Valloncello dell’Albero Isolato, 27 de agosto de 1916

Destas casas
nada sobrou
senão alguns
pedaços de muro

De quantos
me foram próximos
nada sobrou
nem tanto

No coração porém
nenhuma cruz me falta

É o meu coração
a região mais destroçada

Trad.: Geraldo Holanda Cavalcanti

Giuseppe Ungaretti – San Martino Del Carso
Valloncello dell’Albero Isolato il 27 agosto 1916

Di queste case
non è rimasto
che qualche
brandello di muro

Di tanti
che mi corrispondevano
non è rimasto
neppure tanto

Ma nel cuore
nessuna croce manca

È il mio cuore
il paese più straziato