Parem de matar os mortos,
Não gritem mais, não gritem
Se ouvir ainda os quiserem,
Se imperecer ainda esperam.
Eles, sussurro imperceptível,
Não fazem mais ruído
Que o mato quando cresce,
Alegre, onde homem não passa.
Trad.: Aurora Bernardini
Nelson Santander
Parem de matar os mortos,
Não gritem mais, não gritem
Se ouvir ainda os quiserem,
Se imperecer ainda esperam.
Eles, sussurro imperceptível,
Não fazem mais ruído
Que o mato quando cresce,
Alegre, onde homem não passa.
Trad.: Aurora Bernardini
Mariano, 29 de junho de 1916
Aquele camponês
se fia na medalha
de Santo Antonio
e segue tranquilo
Mas bem só e bem nua
sem qualquer miragem
carrego minha alma
Trad.: Geraldo Holanda Cavalcanti
Bosque de Courton, julho de 1918
Depois de tanta
névoa
uma
a uma
se desvelam
as estrelas
Respiro
o frescor
que me deixa
a cor do céu
Me reconheço
imagem
passageira
Presa de um ciclo
imortal
Natal
Não tenho vontade
de mergulhar-me
em um novelo
de estradas
Carrego tanto
cansaço
sobre os ombros
Deixai-me assim
como uma
coisa
colocada
em um
canto
e esquecida
Aqui
não se sente
outra presença
que o calor bom
Estou
com as quatro
cabriolas
de fumaça
da lareira.
Trad.: Luigi Lucchesi
Não me apetece
mergulhar
em um novelo
de estradas
Carrego tanto
cansaço
sobre os ombros
Deixe-me assim
como uma
coisa
pousada
em um
canto
e abandonada
Aqui
não se sente
senão
o bom calor
Estou
com as quatro
cabriolas
de fumo
da lareira
Entre uma flor colhida e o dom de outra
o nada inexprimível
Trad.: Haroldo de Campos
Giuseppe Ungaretti – Eterno
Tra un fiore colto e l’ altro donato
l’ inesprimibile nulla.
Valloncello dell’Albero Isolato, 27 de agosto de 1916
Destas casas
nada sobrou
senão alguns
pedaços de muro
De quantos
me foram próximos
nada sobrou
nem tanto
No coração porém
nenhuma cruz me falta
É o meu coração
a região mais destroçada
Trad.: Geraldo Holanda Cavalcanti
Giuseppe Ungaretti – San Martino Del Carso
Valloncello dell’Albero Isolato il 27 agosto 1916
Di queste case
non è rimasto
che qualche
brandello di muro
Di tanti
che mi corrispondevano
non è rimasto
neppure tanto
Ma nel cuore
nessuna croce manca
È il mio cuore
il paese più straziato