O que eu não disse
quando ela me perguntou
por que eu sabia tanto
sobre morrer foi que,
para mim, aquilo era uma tarefa.
Quando papai ligou para dizer
que tínhamos um mês, eu fiz uma lista.
Chamei minha equipe
para o meu escritório num arranha-céu,
aquelas Rosies1 que conheciam o ofício,
aquelas que tinham perdido alguém querido,
aquelas que tinham vivido a linha de montagem
da morte em suas próprias casas, e disse,
O que é isso de não mantê-la
em TNP?2 Uma mulher,
ainda frágil de tristeza,
disse, Depende se
ela prefere morrer de insuficiência cardíaca
ou se afogar em seus próprios fluidos.
Acenei com a cabeça e anotei aquilo
como se fosse em uma reunião
sobre um cliente insatisfeito.
E o hospital?, perguntei.
Eles disseram: Eles vão ajudar,
mas você e seu pai
farão a maior parte.
Coloquei um asterisco nisso.
Tínhamos um plano de ação.
Quando isso acontece, nós fazemos isso.
Quando aquilo acontece, nós fazemos aquilo.
Mas o que eu esqueci
foi que este era o nosso plano,
não o dela, não o de quem estava morrendo,
este era um plano para aqueles
que ainda tinham alguém próximo.
Veja, nosso trabalho era simples:
continuar vivendo. O trabalho dela era mais difícil,
o mais difícil de todos. O seu trabalho,
o trabalho dela, era deixar que a máquina
de sobrevivência falhasse,
fazer a fábrica falir,
saber que esta guerra não tinha vencedores,
saber que sozinha ela nos
destruiria a todos.
Trad.: Nelson Santander
1. Referência a Rosie the Riveter . Rosie, a Rebitadora, em tradução livre, é uma personagem icônica da propaganda de guerra dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Ela foi retratada em um cartaz produzido originalmente em 1943 pela Westinghouse Electric Corporation e amplamente utilizado pelo governo dos EUA para incentivar as mulheres a trabalharem em estaleiros e fábricas, substituindo os homens que haviam sido enviados para lutar na guerra. A figura de Rosie se tornou um símbolo do empoderamento feminino e da contribuição das mulheres para a guerra..
2. Terapia Nutricional Parenteral, uma forma de suplementação alimentar intravenosa indicada em pacientes que apresentam inviabilidade do trato gastrintestinal e que são incapazes de atingir um aporte calórico proteico adequado em até 5-7 dias de internação. Esse tipo de terapia é fundamental para garantir a nutrição e a manutenção do estado nutricional adequado em pacientes que não podem receber nutrição via oral ou enteral..
The Riveter
What I didn’t say
when she asked me
why I knew so much
about dying, was that,
for me, it was work.
When Dad called to say
we had a month, I made a list.
I called in my team
to my office in a high rise,
those Rosies of know-how,
those that had lost someone loved,
those that had done the assembly line
of a home death, and said,
What’s this about not keeping
her on TPN? One woman,
who was still soft with sadness
said, It depends on whether
she wants to die of heart failure
or to drown in her own fluids.
I nodded, and wrote that down
like this was a meeting
about a client who wasn’t happy.
What about hospice? I asked.
They said, They’ll help,
but your Dad and you guys
will do most of it.
I put a star by that.
We had a plan of action.
When this happens, we do this.
When that happens, we do that.
But what I forgot
was that it was our plan,
not hers, not the one doing the dying,
this was a plan for those
who still had a next.
See, our job was simple:
keep on living. Her job was harder,
the hardest. Her job,
her work, was to let the machine
of survival break down,
make the factory fail,
to know that this war was winless,
to know that she would singlehandedly
destroy us all