Lawrence Ferlinghetti – Café Notre Dame

Uma espécie de trauma sexual
prende um casal abismado
Ele está segurando as duas mãos dela
nas suas
Ela está beijando as mãos dele
Estão olhando-se
nos olhos
de muito perto
Ela tem um casaco de peles
feito duma centena de coelhos correndo
Ele
tem um casaco clássico sombrio
e calças cinza-de-pardo
Agora estão a examinar as palmas
das mãos um do outro
como se fossem mapas de Paris
ou do mundo
como se estivessem à procura do Metrô
que os levasse juntos
através dos caminhos subterrâneos
através das «estações do desejo»
até ao terminal do amor
até às portas da cidade-luz
É um caso sem saída
e estão perdidos
nas linhas cruzadas
das suas palmas enlaçadas
suas linhas de cabeça e linhas de coração
suas linhas de sorte e linhas de vida
ilegíveis e misturadas
no mons veneris
da sua paixão

Trad.: André e Isabelle Lima

Lawrence Ferlinghetti – Café Notre Dame

A sort of sexual trauma
has this couple in its thrall
He is holding both her hands
in both his hands
They are looking
in each other’s eyes
Up close
She has a fur coat
made of a hundred running rabbits
He
is wearing a formal
dark coat and dove grey trousers
Now they are inspecting the palms
of each other’s hands
as if they were maps of Paris
or of the world
as if they were looking for the Metro
that would take them together
through subterranean ways
through the ‘station of desire’
to love’s final terminals
at the ports of the city of light
It is a terminal case
But they are losing themselves
in the crisscrossing lines
of their intertwined palms
their head-lines and their heart-lines
their fate-lines and life-lines
illegibly entangled
in the mons veneris
of their passion

Marina Tsvetáieva – Um poema em duas traduções

Tentativa de ciúme
Trad.: Augusto de Campos

Como vai você com a outra?
Fácil, não é? — Um golpe de remo! —
E de pronto a linha da costa
Se foi e você já nem se lembra

De mim, ilha flutuante
(No céu, por certo, não no mar)!
Almas! Almas! — antes amar
Como irmãs, não como amantes!

Como vai você com a mulher
Comum? Sem nada de divino?
Sem soberana, sem sequer
Um trono (você foi o assassino),

Como vai, meu bem? Tudo a gosto?
E o dia-a-dia — sempre igual?
Como você se arranja com o imposto
Da banalidade imortal?

“Mil sobressaltos, incertezas —
Basta! Vou arrumar um teto!”
Como vai, com quem quer que seja —
O eleito pelo meu afeto?

A comida é melhor, mais familiar?
Diga a verdade. Como vai
Você com a imitação vulgar —
Você, que subiu ao Sinai?

Como é viver com uma estranha?
Você a ama? Não disfarce.
O chicote de Zeus da vergonha
Nenhuma vez lhe zurze a face?

E a saúde, vai bem? Que tal
A vida — uma canção? A ferida
Da consciência imortal
Como a suporta, meu querido?

Como vai você com o adereço
De feira? A taxa é muito cara?
Como é aspirar o pó do gesso
Depois do mármor de Carrara?

(Deus talhado em barro, termina
Em pedaços!) Como é o convívio
Com a milionésima da fila
Pra quem já conheceu Lilit?

As novidades de feira
Se acabaram? Farto de portentos,
Como é a vida corriqueira
Com a mulher terrena, sem sexto

Sentido? Vamos, tudo cor
De rosa? Ou não? Aí, nesse oco
Sem fundo, amor, como vai? Pior
Ou igual a mim com outro?

Ensaio de ciúme
Trad.: Décio Pignatari

Como vai indo com a outra?
Tão fácil, não? — basta um impulso
no remo — com a orla, a minha
imagem se borra, se afasta,

vira ilha flutuante (no céu,
— na água, não!). Alma e alma,
irmãs, sim — mas, amantes, não!
Uma é destino; outra — sem fim!

Que tal viver com tal pessoa
comum — vida sem divindades?
Jogou do trono-olimpo a deusa-
rainha, abdicou — e a coroa

de sua vida, como fica?
Ao despertar, como pagar
o preço de imortal banal-
idade — como? Menos rica?

“Chega de susto e suspeita!
Quero um lar!”. Mas… e a vida
só — com uma mulher qualquer —
Você — eleito de uma eleita?

Ah… E a comida? Apetitosa?
Você se queixa quando enjoa?
Depois do topo do Sinai,
Ir conviver com uma à-toa

da parte baixa da cidade,
uma coitada? Gostou da anca?
O açoite-vergonha de Zeus
ainda não vincou-lhe a estampa?

Entre viver e ser, dá para
contar? E como encara
o caro amigo a cicatriz
da consciência-meretriz?

Viver como boneca de gesso
—de feira!? Você me acha cara?
depois de um busto de Carrara,
um susto de papier-mâché?

(O deus que escavei de um bloco
só me deixou os ocos). Enleva
viver com uma igual a mil,
quem já teve a Lilit primeva?

Não lhe matou a fome a boa
bisca, que atendeu aos pedidos?
Como viver com a simplória
que só possui cinco sentidos?

Enfim, por fim…: você é feliz,
no sem-fundo dessa mulher?
Pior, melhor, igual a mim,
nos braços de um outro qualquer?

Peguei aqui: http://revistamododeusar.blogspot.com.br/2013/04/marina-tsvetaieva-1892-1941.html?m=1

Anne Sexton – Para o meu Amante Voltando Para a Esposa

Ela está bem aqui.
Ela foi cuidadosamente esculpida para você
saída de sua infância
saída dentre seus cem colegas de escola preferidos.

Ela sempre esteve aqui, meu bem.
Ela é de fato extraordinária.
Fogos de artifício no meio do sempre maçante Fevereiro
e tão real como uma panela de ferro fundido.

Vamos ser sinceros, eu fui passageira.
Um artigo de luxo. Um veleiro vermelho-brilhante no cais.
Meu cabelo para fora da janela do carro, esvoaçante como fumaça.
Mariscos fora de época.

Ela é mais do que isso. Ela é o que você tem de ter,
ela semeou seu crescimento prático, tropical.
Ela não é uma experiência. Ela é toda harmonia.
Ela cuida para que no bote salva-vidas haja remos e ganchos,

coloca flores do campo na janela para o café-da-manhã,
ao meio-dia senta-se à roda do oleiro,
criou três filhos sob a lua,
três querubins desenhados por Michelangelo,

fez isso com as pernas abertas
nos terríveis meses na capela.
Se você olhar para cima, as crianças estão lá
como balões delicados que descansam no teto.

Ela também carregou cada uma pelo corredor
depois do jantar, suas cabeças inclinadas,
duas pernas protestando, íntimas, pessoa contra pessoa,
o rosto corado com uma canção e soninho.

Eu devolvo seu coração.
Eu dou meu consentimento –

para o detonador dentro dela, latejando
na lama com raiva, para a sua cadela interior
e o enterro das suas feridas –
para enterrar viva a ferida, pequena e vermelha –

para a pálida tremelicante labareda debaixo de suas costelas,
para o marinheiro bêbado que aguarda em seu pulso esquerdo,
para o joelho materno, para a meia,
para a cinta-liga, para a chamada –

a estranha chamada
você vai se esconder nos braços e nos seios
e puxar a fita cor de laranja do cabelo dela
e atender a chamada, a estranha chamada.

Ela é tão nua e única
Ela é a soma de você mesmo e o seu sonho.
Escale-a como um monumento, passo a passo.
Ela é sólida.

Quanto a mim, sou uma aquarela.
Eu evaporo.

Trad.: Adelaide Ivanova

Anne Sexton – For my lover returning to his wife

She is all there.
She was melted carefully down for you
and cast up from your childhood,
cast up from your one hundred favorite aggies.
She has always been there, my darling.
She is, in fact, exquisite.
Fireworks in the dull middle of February
and as real as a cast-iron pot.
Let’s face it, I have been momentary.
vA luxury. A bright red sloop in the harbor.
My hair rising like smoke from the car window.
Littleneck clams out of season.
She is more than that. She is your have to have,
has grown you your practical your tropical growth.
This is not an experiment. She is all harmony.
She sees to oars and oarlocks for the dinghy,
has placed wild flowers at the window at breakfast,
sat by the potter’s wheel at midday,
set forth three children under the moon,
three cherubs drawn by Michelangelo,
done this with her legs spread out
in the terrible months in the chapel.
If you glance up, the children are there
like delicate balloons resting on the ceiling.
She has also carried each one down the hall
after supper, their heads privately bent,
two legs protesting, person to person,
her face flushed with a song and their little sleep.
I give you back your heart.
I give you permission –
for the fuse inside her, throbbing
angrily in the dirt, for the bitch in her
and the burying of her wound –
for the burying of her small red wound alive –
for the pale flickering flare under her ribs,
for the drunken sailor who waits in her left pulse,
for the mother’s knee, for the stocking,
for the garter belt, for the call –
the curious call
when you will burrow in arms and breasts
and tug at the orange ribbon in her hair
and answer the call, the curious call.
She is so naked and singular
She is the sum of yourself and your dream.
Climb her like a monument, step after step.
She is solid.
As for me, I am a watercolor.
I wash off.

http://www.suplementopernambuco.com.br/inéditos/1654-para-o-meu-amante-voltando-para-a-esposa.html

Mario Benedetti – Tempo sem Tempo

Preciso de tempo, necessito desse tempo
que os outros deixam de lado
porque lhes sobra ou já não sabem
o que fazer com ele
tempo
em branco
em rubro
em verde
mesmo em castanho escuro
não me importa a cor
cândido tempo
que eu não posso abrir
e fechar
como uma porta

tempo para olhar uma árvore, um farol
para caminhar à beira de um descanso
para pensar que bom que hoje é inverno
para morrer um pouco
e nascer em seguida
e dar-me conta
e dar-me corda
preciso do tempo necessário para
chapinhar algumas horas na vida
e investigar por que estou triste
e acostumar-me ao meu velho esqueleto

tempo para esconder-me
no canto de um galo
e para reaparecer
em um relincho
e para estar em dia
para estar à noite
tempo sem recato e sem relógio

vale dizer, preciso
ou seja, necessito
digamos que me faz falta
tempo sem tempo.

trad.: Nelson Santander

Mario Benedetti – Tiempo sin Tiempo

Preciso tiempo necesito ese tiempo
que otros dejan abandonado
porque les sobra o ya no saben
que hacer con él
tiempo
en blanco
en rojo
en verde
hasta en castaño oscuro
no me importa el color
cándido tiempo
que yo no puedo abrir
y cerrar
como una puerta

tiempo para mirar un árbol un farol
para andar por el filo del descanso
para pensar qué bien hoy es invierno
para morir un poco
y nacer enseguida
y para darme cuenta
y para darme cuerda
preciso tiempo el necesario para
chapotear unas horas en la vida
y para investigar por qué estoy triste
y acostumbrarme a mi esqueleto antiguo

tiempo para esconderme
en el canto de un gallo
y para reaparecer
en un relincho
y para estar al día
para estar a la noche
tiempo sin recato y sin reloj

vale decir preciso
o sea necesito
digamos me hace falta
tiempo sin tiempo.

Manuel António Pina – Luz

Talvez que noutro mundo, noutro livro,
tu não tenhas morrido
e talvez nesse livro não escrito
nem tu nem eu tenhamos existido

e tenham sido outros dois aqueles
que a morte separou e um deles
escreva agora isto como se
acordasse de um sonho que

um outro sonhasse (talvez eu),
e talvez então tu, eu, esta impressão
de estranhidão, de que tudo perdeu
de súbito existência e dimensão,

e peso, e se ausentou,
seja um sonho suspenso que sonhou
alguém que despertou e paira agora
como uma luz algures do lado de fora.

Marina Colasanti – Rota de Colisão

De quem é esta pele
que cobre a minha mão
como uma luva?
Que vento é este
que sopra sem soprar
encrespando a sensível superfície?
Por fora a alheia casca
dentro a polpa
e a distância entre as duas
que me atropela.
Pensei entrar na velhice
por inteiro
como um barco
ou um cavalo.
Mas me surpreendo
jovem velha e madura
ao mesmo tempo.
E ainda aprendo a viver
enquanto avanço
na rota em cujo fim
a vida
colide com a morte.

Raul de Carvalho – Amiúde

No vale dos afetos
ninguém está seguro:
Míngua a lembrança,
Esquece-se o rosto,
Retorna-se ao eu,
Os lábios secam, as palavras dormem, os sonhos dispersam-se, a
presença ausenta-se, há o lago de que não se vê o fundo –

E apenas as pequenas ilusões
– um café, o cigarro, a limonada –
imitam dois corações unidos …

Roger Wolfe – A Última Noite da Terra

O melro de todos os anos voltou a visitar minha casa
E, no entanto, permaneço aqui.
Sua melodia não muda, já o escrevi antes.
Mas o meu trabalho é constatar o óbvio
e é isso que o melro faz-me recordar.
O tempo passa, as pessoas envelhecem, morrem
por sua própria mão ou com ajuda.
As palavras vazam pelo ralo
do que alguém já chamou de “a história secreta”.
Tudo flui e se perde, os rios no mar,
o mar na imensidão incalculável do cosmos,
o cosmos no nada do qual não deveria ter saído.
Enquanto isso, digitamos.
Um surdo tamborilar contra séculos de morte programada
e um futuro de certeira incerteza.
Um batalhão de patéticos amanuenses do esquecimento
exigindo duas camisas para o caminho até o patíbulo.
Todavia, não é o frio o problema, mas o medo.
E é o melro, em sua ignorância, quem conhece a verdade.
Cumpre sem a mínima estridência
o ritual que lhe impôs a biologia.
E depois morrerá. Sem epitáfios, como este,
que desaparecerão com um esgar de indiferença
entre as chamas da última noite da Terra,
quando ninguém já perceber qualquer significado,
se é que algo já fez sentido alguma vez.

Trad.: Nelson Santander

Roger Wolfe – La última noche de la tierra

El mirlo de todos los años ha vuelto a visitar mi casa
y todavía sigo aquí.
Su música no cambia y eso ya lo he escrito.
Pero mi trabajo es constatar lo obvio
y eso es lo que el mirlo me viene a recordar.
El tiempo pasa, la gente se hace vieja, se muere,
por su propia mano o con ayuda.
Las palabras van bajando por el desagüe
de lo que alguien ha llamado la intrahistoria.
Todo fluye y se pierde, los ríos en el mar,
el mar en la inmensidad inabarcable del cosmos,
el cosmos en la nada de la que no debió salir.
Mientras tanto tecleamos.
Un sordo tamborileo contra siglos de muerte programada
y un futuro de certera incertidumbre.
Un batallón de patéticos amanuenses del olvido
exigiendo dos camisas para el camino hacia el patíbulo.
Pero no es el frío el problema, sino el miedo.
Y es el mirlo, en su ignorancia, el que sabe la verdad.
Cumple sin la más mínima estridencia
el ritual que le ha impuesto la biología.
Luego morirá. Sin epitafios, como éste,
que se deshagan con una mueca indiferente
entre las llamas de la última noche de la Tierra,
cuando nadie entienda ya ningún significado,
si es que algo tuvo sentido alguna vez.

João Miguel Fernandes Jorge – Presépio Animado da Ribeira Grande

Ainda todos se lembram do dezembro de 96.
Era dia de natal. Na estrada que leva ao norte
da ilha, sob grande tempestade, trôpego, na
berma, um gato de pelagem branca. Parecia

ferido. Fêmea branca, a que chamariam persa
de pelo curto, tinha uma chaga na orelha
alastrava pelo crânio e pela face e
olho. Massa disforme de carne e sangue,

pancada de carro ou parede de muro desabado
a ferida. Animal muito manso, delicado e
tímido, deixou que me aproximasse
lhe pegasse e a trouxesse para dentro do

meu carro. Tremia de frio e também de medo e
dor. Enxuguei-a com um pedaço de
flanela, dei por mim chamando-lhe
Princesa: era muito nova, pequena,

de um branco que resistia ao lixo da terra
da quase sarjeta de onde a tirei; olhos
claros, amendoados. A mais
delicada e triste das gatas com a horrível

ferida a alastrar, implacável. Uma
gangrena que exalava cheiro pestilento
– a princesa branca apodrecia no dia
de natal. Havia uma caixa de cartão

no banco traseiro, coloquei-a dentro e
descobri a casa do veterinário. Era uma pasta
de sangue, carne e urina tão assustada
estava. O médico agarrou-a – eles já

cheiraram muita pestilência, os veterinários –
fez-lhe festas. Era muito meiga. Não
pude olhar enquanto a matava; meteu o
corpo branco, ainda quente, na caixa de

cartão. Levei-a, morta, e com aquele cheiro;
já quase noite. Enterrei-a num pequeno
jardim, bem perto do presépio animado da Ribeira
Grande, que nesse fim de dia de natal ainda

visitei. As lágrimas de nada servem, nem
por uma gata branca a que chamei Princesa,
durante uma escassa hora, a debater-se
com a morte. O sangue, a urina

o cheiro da gangrena. Este é o inferno
dos mortais, a sua beleza e fragilidade. A
morte é uma coisa e a vida, a mesma
coisa. A face da morte é o reflexo da

vida quando se debruça sobre a superfície
da ilha. Luze em todos os natais, suave,
esbatida de traços – palavra de traição
que rodeia o medo, o abandono.

Charles Simic – Na Biblioteca

                  Para Octavio

Há um livro chamado
“Um Dicionário dos Anjos”.
Não foi aberto por ninguém em cinquenta anos,
Eu sei, porque quando o fiz
As capas rangeram, as páginas
desintegraram-se. Nele descobri
Que os anjos já foram tão abundantes
Quanto moscas. O céu ao entardecer
Costumava ficar repleto deles.
Você precisava agitar ambos os braços
Apenas para mante-los afastados.
Agora o sol está brilhando
Através de altas janelas.
A biblioteca é um lugar tranquilo.
Anjos e deuses amontoados
em sombrios tomos fechados.
O grande segredo está
Em alguma estante pela qual
Miss Jones passa em sua ronda diária.
Ela é muito alta, então mantém
Sua cabeça inclinada como se estivesse escutando.
Os livros estão sussurrando.
Eu não ouço nada, mas ela sim.

Trad.: Nelson Santander

Charles Simic – In Library

There’s a book called
“A Dictionary of Angels.”
No one has opened it in fifty years,
I know, because when I did,
The covers creaked, the pages
Crumbled. There I discovered
The angels were once as plentiful
As species of flies. The sky at dusk
Used to be thick with them.
You had to wave both arms
Just to keep them away.
Now the sun is shining
Through the tall windows.
The library is a quiet place.
Angels and gods huddled
In dark unopened books.
The great secret lies
On some shelf Miss Jones
Passes every day on her rounds.
She’s very tall, so she keeps
Her head tipped as if listening.
The books are whispering.
I hear nothing, but she does.