ESTAS
são as semanas desoladas, sombrias
em que na sua aridez a natureza
rivaliza com a estupidez humana.
O ano despenha-se na noite
e o coração é um abismo
mais fundo que a noite
nesse vazio varrido pelo vento
sem sol, sem lua nem estrelas
apenas uma estranha luz do pensamento
que lança um tenebroso fogo –
rodando sobre si mesma até
no frio incendiar-se
e revelar ao homem algo que ele
desconhece, não a solidão
em si – não um espectro
ainda que o pudesse abraçar – vazio,
desespero – (gemendo
soluçando) entre
as chamas e os estrondos da guerra;
casas em cujos aposentos
o frio ultrapassa o imaginável,
aqueles que se foram e que amávamos
vazias as camas, úmidos os
sofás, as cadeiras sem uso –
Oculta-os algures
longe do pensamento, deixa-os criar
raízes e crescer, salvo de olhos e ouvidos
ciosos – por si somente.
A esta mina chegam para escavar – todos.
Será isto o contraponto da música mais
suave? A fonte da poesia que
ao ver o relógio parado, diz:
Parou o relógio
que ontem trabalhava tão bem?
e ouve o som das águas do lago
salpicando – agora petrificadas.
Trad.: José Agostinho Baptista