Singularidade
(depois de Stephen Hawking)
Você às vezes não gostaria de acordar para a singularidade
que um dia fomos?
tão compactos ninguém
precisava de cama, ou comida, ou dinheiro —
ninguém se escondendo no banheiro da escola
ou sozinho em casa
abrindo a gaveta
onde os comprimidos são guardados.
Pois cada átomo que pertence a mim
Pertence a você. Lembra-se?
Não havia Natureza. Não havia
eles. Nem testes
para determinar se o elefante
sofre por sua cria ou se
o recife de coral sente dor. Oceanos
arruinados não falam Inglês ou Farsi ou Francês;
se pudéssemos acordar para o que éramos
— quando éramos oceano e antes disso
quando o céu era terra, e o animal, energia, e a rocha era
líquida e as estrelas eram espaço e espaço não era
nada — nada
antes de começarmos a acreditar que os humanos eram tão importantes
diante desta terrível solidão.
Podem as moléculas se lembrar?
o que uma vez foi? antes de algo acontecer?
Não Eu, não Nós, ninguém. Não havia
o verbo, nem o substantivo
só um ponto muito minúsculo repleto de
é é é é é
A totalidade de tudo em casa
Trad.: Nelson Santander
Singularity
(after Stephen Hawking)
Do you sometimes want to wake up to the singularity
we once were?
so compact nobody
needed a bed, or food or money —
nobody hiding in the school bathroom
or home alone
pulling open the drawer
where the pills are kept.
For every atom belonging to me as good
Belongs to you. Remember?
There was no Nature. No
them. No tests
to determine if the elephant
grieves her calf or if
the coral reef feels pain. Trashed
oceans don’t speak English or Farsi or French;
would that we could wake up to what we were
— when we were ocean and before that
to when sky was earth, and animal was energy, and rock was
liquid and stars were space and space was not
at all — nothing
before we came to believe humans were so important
before this awful loneliness.
Can molecules recall it?
what once was? before anything happened?
No I, no We, no one. No was
No verb no noun
only a tiny tiny dot brimming with
is is is is is
All everything home