secos
são os homens sem sonhos
desertos rios de margens estreitas
trilham apenas os caminhos que a terra dita
nunca refletem de volta
o brilho gratuito do mundo
o acaso
delimita suas fronteiras
os homens sem sonhos
eles são
as velas apagadas
os caminhos silenciosos brancos de neve
a matéria da corda dos enforcados
o silêncio nascido da ignorância
a crosta e a superfície
o fácil e o óbvio
apenas olham
e a maçã continua maçã
aliás seu olhar as coisas petrifica
modernas medusas
mitológicos zeros
esquecidos até mesmo pelos espelhos
mas o mundo ainda é o mesmo que sempre foi
ainda existem aqueles que olham as estrelas
e pensam – eu existo
outros há que escrevem poemas
(semideuses para quem a alma humana
não representa segredo)
mas as maravilhas
as verdadeiras maravilhas
(o dentro de uma gota de névoa
as possibilidades infindas do oceano
a morte no exato de sua hora
a fagulha química que engendra a paixão
e o suor brotando feito sangue – puro sangue –
no dorso de um cavalo no galope
e a menor partícula, essência das essências
e o nada entre os mundos
entre as estrelas
os sonhos de Ariadne)
essas não são visíveis a olhos nus
cegos são os homens sem sonhos
mortos estão e julgam que dormem
o sono
é o dos
justos
14/05/1994